Laboratório de Psicologia do Esporte da EEFFTO completa 25 anos | EEFFTO - UFMG  


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Laboratório de Psicologia do Esporte da EEFFTO completa 25 anos

07/12/2016 | 10:39

Um dos centros de desenvolvimento de pesquisa mais consistentes e sólidos da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG, o Laboratório de Psicologia do Esporte (Lapes) completa 25 anos nesta quarta-feira (7).

Enquanto centro de pesquisa, o Lapes é referência na área da psicologia do esporte em todo o país, tendo como missão promover e desenvolver estudos científicos que contribuam para o avanço de pesquisas nas áreas de psicologia do esporte e neurociência esportiva. Em comemoração ao aniversário deste laboratório, que é um dos principais do país, remonta-se à sua história e a seus colaboradores, que passam por duas gerações.


PRIMEIRA GERAÇÃO: da iniciativa à consolidação do Lapes

Um dos grandes nomes da psicologia do esporte no Brasil, Dietmar Martin Samulski chegou ao país no final da década de 80, por meio do Serviço de Intercâmbio Acadêmico Alemão (Deutscher Akademischer Austausch Dienst - DAAD). Ele teve como missão implantar o curso de mestrado em Educação Física na EEFFTO, mas as experiências com a psicologia do esporte fora do Brasil o levaram a almejar também outros cenários na Escola.

Assista ao vídeo feito em homenagem a Dietmar Samulski

 

Dietmar fundou o Lapes em 7 de dezembro de 1991, e nesses primórdios constam alguns nomes como Luiz Carlos Moraes, Mauro Heleno Chagas, Pablo Juan Greco e Rodolfo Novellino Benda. O trabalho de Dietmar foi ainda além, com a implantação da disciplina de Psicologia do Esporte no percurso curricular do curso de Educação Física, o que não existia no Brasil até então.

Time do Lapes logo no início, entre professores e alunos, tinha Rodolfo Novellino, Robledo Coelho, Antônio Serenini, Varley Costa, Pablo Juan Greco (em pé); Luiz Carlos Moraes, Mauro Heleno Chagas, Dietmar Samulski e Franco Noce (sentados)

 

“Logo que voltei do meu mestrado em Educação  Física [nos EUA] em 1986, com concentração em Psicologia do Esporte, tinha o objetivo premente de trazer novas informações naquela área tão escassa de informações científicas no Brasil. Quando cheguei, encontrei-me com o Dr. Dietmar e logo em seguida fui convidado para integrar o grupo do Lapes”, relembrou Luiz Carlos, que hoje é professor aposentado da EEFFTO e foi um dos membros fundadores do Lapes.

Outro personagem nesse início do laboratório foi Mauro Heleno Chagas, que atualmente coordena o Programa de Pós-graduação em Ciências do Esporte na EEFFTO, ao qual o Lapes é vinculado. Quando Dietmar criou o laboratório, Mauro tinha acabado de se graduar em Educação Física e ficava boa parte do dia na Escola estudando para tentar o seu mestrado. Ele passou então a fazer pesquisas no Lapes, até que conseguiu o mestrado no próprio laboratório.

“Dietmar trouxe a perspectiva de desenvolvimento de uma linha de uma disciplina que até então não existia aqui. Ele é um dos pioneiros do país em relação ao desenvolvimento dessa área de conhecimento [psicologia do esporte] e da sua pesquisa”, salientou Mauro Heleno.

Uma questão importante é que a psicologia já atuava no esporte antes da década de 90, mas a psicologia do esporte em si só apareceu de uma maneira mais efetiva com a vinda de Dietmar para o Brasil. Isso porque ele começou a escrever de forma mais sistematizada sobre os conceitos da área, lançando, por exemplo, o primeiro livro específico em psicologia do esporte no país, em 1992.

Alguns dos livros de Dietmar Samulski, com destaque para o da esquerda, publicado em 1992, que foi o primeiro no país a tratar de forma específica a psicologia do esporte

 

O Lapes foi o segundo laboratório a ser criado na EEFFTO, pois veio depois do Laboratório de Fisiologia do Exercício (LAFISE). Dentro dele, coexistiam várias linhas de pesquisa: a de aprendizagem motora, com o prof. Rodolfo Novellino, cognição e ação, com o prof. Pablo Juan Greco, expertise, com o prof. Luiz Carlos Moraes, e a própria psicologia do esporte, com Dietmar.

Em 1997, foi criado o Centro de Excelência Esportiva (Cenesp) na EEFFTO, e houve então um desmembramento das áreas de “aprendizagem motora” e “cognição e ação”, que se tornaram laboratórios específicos coordenados pelos membros do Lapes: Grupo de Estudos em Desenvolvimento e Aprendizagem Motora (Gedam - coordenado pelo professor Rodolfo Novellino) e Centro de Estudos de Cognição e Ação (Ceca - coordenado pelo professor Pablo Greco), respectivamente.

“Em 1992, eu comecei a trabalhar com o tema ‘comportamento motor’ dentro do Lapes. Saí para fazer meu doutorado quatro anos depois, e quando retornei, o Cenesp já tinha sido criado. Começaram a ter mais pessoas interessadas no comportamento motor e decidimos nos afastar, sem necessariamente perder vínculo, porque ainda tem muita coisa feita em conjunto. Posso dizer que o Gedam saiu de dentro do Lapes”, observou Rodolfo Novellino, coordenador do Gedam.

“Fui pesquisador dentro do Lapes e iniciei minha carreira na Escola como integrante do grupo de pesquisa em psicologia do esporte. Eu trabalhava, como continuo trabalhando, na área da cognição e ação”, relatou o prof. Pablo Greco, coordenador do Ceca até os dias de hoje.

Primeira placa do Lapes, que funcionava onde hoje é a sala de informática da EEFFTO

 

Dietmar coordenou o Lapes de 1991 a 2011, quando foi homologada a sua aposentadoria. Nesse período, a produção acadêmica do laboratório foi nutrida pela orientação de cerca de 46 pesquisas de mestrado e doutorado (uma média de 2,3 por ano), além de dezenas de trabalhos de iniciação científica, livros e artigos científicos.

Dietmar Samulski e Franco Noce, quando Franco estava na iniciação científica do Lapes

 

O fundador do Lapes faleceu em 1° de dezembro de 2012 e deixou um legado para os estudos em psicologia do esporte em todo o mundo. Ele chegou a ser presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte (SOBRAPE), de 2002 a 2006; fundador, presidente e presidente de honra da Sociedade Sul-americana de Psicologia do Esporte (SOSUPE), entre 2006 e 2011, e também foi membro do Managing Council da Sociedade Internacional de Psicologia do Esporte (ISSP), de 2001 a 2005.

Efetivados esses 20 anos da primeira geração do Lapes, que tiveram o protagonismo do grande fundador Dietmar e a contribuição de inúmeros alunos e professores, começou-se uma nova etapa.


SEGUNDA GERAÇÃO: da expansão de horizontes aos dias de hoje

A tarefa de dar continuidade à excelência de um centro de pesquisa renomado em todo o país, como é o Lapes, ficou nas mãos de ex-alunos dele. Varley Costa e Franco Noce construíram suas carreiras acadêmicas na UFMG, considerando a graduação, o mestrado e o doutorado – com exceção do doutorado de Franco, que foi em São Paulo.

Varley Costa, Dietmar Samulski e Franco Noce, na Colômbia, no último congresso em que participaram juntos

 

Essa transição trouxe uma nova linha de abordagem para o laboratório, que expandiu suas áreas de pesquisa e intervenção dentro da psicologia do esporte. Atualmente, além dos dois coordenadores, que estão mais ligados à psicologia do esporte em si, tem ainda um corpo docente de mais quatro professores: Maicon Albuquerque, Andressa Mello, Marco Túlio de Mello e Eduardo Pimenta. Eles passaram a integrar essa segunda geração, colaborando com uma maior diversidade de análises dentro do laboratório.

“Quando assumimos o Lapes em 2012, nós ampliamos os seus horizontes. Então colocamos psicologia do esporte e neurociência, onde entraram, por exemplo, a psicofisiologia e a psicobiologia”, disse Varley Costa, coordenador do Lapes.

O fato de não haver outra pós-graduação ligada ao treinamento esportivo com foco na psicologia do esporte no Brasil confere destaque aos integrantes do Lapes, considerando seus professores e alunos.

“Nossos corpos docente e discente estão sendo sempre chamados para participarem de congressos nacionais e internacionais. Ao longo da história, também ficamos marcados por sempre estarmos organizando eventos de qualidade, com pesquisadores renomados”, analisou Franco Noce, subcoordenador do laboratório.

 

Depoimentos de alguns professores do Lapes

Professores que integram a segunda geração do Lapes

 

“Os 25 anos Lapes marcam um momento muito especial, principalmente ressaltando a grandeza de quem o iniciou, que tinha como princípio a formação dos alunos, a qualidade e a excelência. O Lapes hoje reflete muito o que o Dietmar preconizava, e espero que todos os membros do laboratório lembrem disso e busquem caminhar com os princípios da igualdade e da fraternidade, onde a oportunidade para os alunos seja a primeira posição”, disse Marco Túlio.

“Cheguei aqui em 2014 e entrei como aluna de pós-doutorado, participando do laboratório e tentando contribuir um pouco com a questão do esporte paralímpico. O professor Dietmar começou há anos atrás [com essa temática], deixou esse legado no laboratório para darmos continuidade, e eu entro nessa parte. Acho que o laboratório tem vários pontos positivos porque tem professores integrados de várias áreas”, comentou Andressa.

“Conheço o Lapes desde o meu mestrado e sempre me relacionei de uma forma muito próxima a ele. [..] Houve uma ampliação do laboratório, no momento onde então me encontro inserido, e a minha investigação especificamente dentro do laboratório é na neuropsicologia do esporte, aspectos cognitivos envolvidos no desempenho esportivo. Vejo minha participação no Lapes como uma contribuição para o crescimento e desenvolvimento dele, principalmente na formação de recursos e produção de conhecimento científico”, salientou Maicon.

A variabilidade de abordagens que foi sendo agregada ao Lapes coopera com o perfil heterogêneo dos seus professores, que têm atuações fora da própria universidade, relacionadas ao desenvolvimento no esporte. Um exemplo é o que acontece com a professora Andressa Mello, que é fisioterapeuta e tem trabalhos junto ao esporte paralímpico, sendo a Paralimpíada no Brasil sua última grande atuação nesse âmbito.

Franco Noce também esteve nos Jogos Paralímpicos 2016, com a seleção brasileira de rugby, e anota experiências com equipes olímpicas, times de vôlei e futebol, além de atletas de tênis e automobilismo, por exemplo. O laboratório ainda viabiliza consultorias, como o que fazem os professores Varley Costa e Eduardo Pimenta no Cruzeiro, nas áreas de coaching esportivo e fisiologia, respectivamente.

Consultor do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), o professor Marco Túlio de Mello trabalha com a temática do sono, sonolência, fadiga, e esteve nos Jogos Olímpicos 2016 a cargo do COB, monitoramento o sono dos atletas da delegação brasileira. Já Maicon tem uma linha de pesquisa mais voltada para os aspectos psicológicos aplicados às lutas, aspecto cognitivo e emocional em atletas desse tipo de modalidade.

 

Parceria e intervenções

Uma das parcerias do Lapes é com a empresa Schuhfried, criadora do Mental Test Training System (MTTS). Esse equipamento é uma bateria com mais de 60 testes que medem capacidades cognitivas, emocionais e comportamentais de atletas.

“A Schuhfried é a principal empresa de desenvolvimento de testes psicológicos para o esporte no mundo e nós somos o principal parceiro dela no Brasil. Além do Lapes, somente a UFV e a Unifesp possuem o MTTS”, disse Varley.

Um outro equipamento usado no Lapes é o Eye Tracking Glasses, um óculos de rastreamento do movimento ocular humano. Ele é capaz de avaliar aspectos cognitivos como percepção, tomada de decisão e comportamentos visuais.

Mental Test Training System (MTTS) e Eye Tracking Glasses, respectivamente

 

Apesar de ser um centro de pesquisa, o Lapes também tem seu caráter intervencionista e de ação. Um dos serviços prestados pelo laboratório foi o realizado junto a trabalhadores da Petrobrás que atuavam na Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), em 2012. Em união ao Lafise e ao Departamento de Fisioterapia da EEFFTO, foi viabilizado um projeto para identificar os problemas de perda de atenção e concentração de funcionários da Reduc.

Trabalho desenvolvido com funcionários da Petrobrás

 

No âmbito do esporte, o Lapes recebeu no ano passado goleiros das categorias sub-14, sub-15, sub-17 e sub-20 do Cruzeiro no próprio laboratório, para serem realizados testes com os garotos. Há pesquisas que são realizadas junto aos principais clubes de Belo Horizonte (Atlético, Cruzeiro e América) em seus centros de treinamento, por alunos que integram o laboratório, e para além dos territórios mineiros. Foram realizadas, ainda, pesquisas com clubes do Paraná, por exemplo. Alguns outros trabalhos de intervenção do Lapes aconteceram com pilotos, lutadores e árbitros de futebol.

À esquerda, teste aplicado na Toca da Raposa com o goleiro Lucas França; à direita, goleiros da categoria de base do Cruzeiro que foram ao Lapes

 

Pesquisa feita na Cidade do Galo com atletas da categoria de base do clube alvinegro

 

O CT Lanna Drummond, do América, também recebeu pesquisadores do Lapes, que fizeram trabalhos com atletas alviverdes

 

Jogadores dos clubes paranaenses Atlético e Coritiba também participaram de testes do Lapes
 
Teste no MTTS com o piloto de enduro Rômulo Bottrel, acompanhado pelo professor Varley Costa
 
No campo das lutas, o Lapes foi até Salvador/BA, no centro de treinamento da seleção brasileira de judô, para aplicar testes

 

Uma outra ação vinculada ao Lapes, que aconteceu em 2010, pouco antes dessa segunda geração do laboratório, foi o projeto de Doutorado do professor Franco Noce. Consistia em um estudo com os pilotos de Caça da Marinha (esquadrão VF-1), onde foi investigado o estresse e a tomada de decisão em missões de voo.

Franco (terceiro) entre os pilotos, em pesquisa junto à Marinha do Brasil; na segunda, avaliação do cortisol salivar (avaliação de estresse)

 

Nestes cinco anos da nova geração do Lapes, foram orientados 14 trabalhos de mestrado e pós-doutorado, considerando pesquisas defendidas e em andamento, numa média de 2,8 por ano. O laboratório ainda movimenta uma grande produção acadêmica e chegou a ser citado com destaque no artigo “Sport Psychology in Brazil: Reflections on the past, present and future of the field” (Psicologia do Esporte no Brasil: reflexões no passado, presente e futuro do campo), publicado neste ano.

Os autores do artigo, Fernanda Serra de Queiroz, Janaina Lima Fogaça, Stephanie J. Hanrahan e Samuel Zizzi, chegaram a fazer uma busca sobre a produção científica no campo da psicologia do esporte nas 25 principais universidades do país, e num dado recorte de tempo foram levantadas 46 pesquisas, das quais 22 partiam da UFMG (quase 50%). Isso evidencia a relevância do Lapes no âmbito das pesquisas no Brasil e sua notoriedade enquanto centro de pesquisas.

Os coordenadores do Lapes ainda têm presença em grandes organizações no campo da psicologia do esporte. Franco Noce ocupa uma posição no Managing Council da ISSP (entidade mundial da área), cargo que foi ocupado pelo professor Dietmar no passado. Já Varley é membro das Juntas Diretivas da Sociedade Iberoamericana de Psicología Del Deporte (SIPD) e da Sociedade Sul-americana de Psicologia do Esporte (SOSUPE).