GEFuT e museu do Mineirão organizam palestras sobre "Silêncios no Futebol" | EEFFTO - UFMG  


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GEFuT e museu do Mineirão organizam palestras sobre "Silêncios no Futebol"

22/05/2017 | 18:15

Por Isabelly Morais

“Museu e Histórias Controversas – dizer o indizível em museus”. Esse foi o tema que norteou mais de três mil atividades em todo o país na semana passada, espalhadas por pelo menos mil museus. Voltados a temáticas diferentes, esses centros compuseram uma temporada cultural promovida pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), em decorrência da 15ª Semana de Museus.

Se vários segmentos entraram na programação, em Belo Horizonte, um espaço voltado para contar a história do esporte mais popular do Brasil não ficou de fora. O Museu Brasileiro do Futebol (MBF), do Estádio Mineirão, promoveu atividades diferentes ao logo da semana, como visitas temáticas  e palestras.

No último sábado, 20 de maio, uma parceria do MBF com o Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas (GEFuT), da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG, elaborou mesas de debate sobre “Silêncios no Futebol”, com temas bastante nobres: “Mulher no Futebol”, “Racismo no Futebol” e “Diversidade sexual no Futebol”. No auditório do MBF, “dizer o indizível” passou a ser também mostrar o que muitas vezes é invisibilizado.

O Museu Brasileiro do Futebol recebeu uma programação especial durante a semana passada (Foto: Isabelly Morais/Assessoria EEFFTO)

 

“Cada um desses temas poderia ser uma manhã de discussão. A principal questão, no meu ponto de vista, é que eles estão gritando na sociedade e no futebol, sem serem devidamente tratados, e o Museu abriu esse espaço. Com a sociedade do jeito que está, precisamos fazer esse contraponto”, afirmou Sílvio Ricardo da Silva, coordenador do GEFuT e professor da EEFFTO.

“Vivemos no mito da igualdade racial, da igualdade de gênero, de que o brasileiro é cordial. Isso é um mito e um mito frágil. Vivemos em um país violento, com muita morte de mulher, da comunidade LGBT, então tentamos trazer esses temas para o contexto do futebol, pensando nele como um evento de massa, trabalhando sobre como esses grupos não são abraçados por esse evento de massa”, enfatizou Thiago Costa, coordenador do MBF.

Thiago Costa e Silvio Ricardo (Fotos: Isabelly Morais/Assessoria EEFFTO)

Diversidade sexual no Futebol

O conjunto de cores estampadas na bandeira LGBT já dá pistas do que ela própria representa: diversidade. No entanto, esse caráter plural das escolhas humanas suscita, muitas vezes, opressão e desrespeito, o que também se estende ao futebol. O estádio e os gramados ainda são lugares hostis para homossexuais e transexuais.

Essa temática foi abordada pelo jornalista Cadu Doné, pelo artista plástico e queer Ed Marte, além do pesquisador do GEFuT Aelson José, todos mediados por Leonardo Turchi - também do grupo da EEFFTO. Cruzeirense com camisa do Atlético-MG, o maior rival da Raposa: foi dessa forma que Ed Marte relativizou a rivalidade ao adentrar no auditório do Museu, contando sobre sua  história no futebol. Na mesma mesa, Aelson falou sobre seu estudo, que envolve futebol e diversidade sexual.

Cadu levou casos de homofobia na modalidade esportiva mais popular do país, como do volante Richarlyson, recentemente contratado pelo Guarani-SP, que já enfrentou situações de preconceito. “É um processo histórico. Em algum momento do crescimento do futebol, enquanto manifestação popular, paixão nacional, o futebol foi sendo associado à figura do ‘machão’, ao ‘esporte do homem’, algo bem atrasado. Só com mudanças na educação, na imprensa, em eventos como esse, para tentar aos poucos mudar a mentalidade das pessoas”, afirmou Cadu.

Aelson José, Cadu Doné e Ed Marte na mesa "Diversidade sexual no Futebol" (Fotos: Isabelly Morais/Assessoria EEFFTO)

Mulher no futebol

“Futebol é coisa de homem”. Essa afirmação se vale de um preconceito enraizado no universo do futebol, reflexo de uma sociedade ainda machista. Em outra mesa do evento do Museu, a publicitária, blogueira e atleticana Elen Campos, da ESPN FC, a cruzeirense e membro da Resistência Azul Popular Cinthia Alves e a pesquisadora do GEFuT Bárbara Gonçalves, torcedora do Atlético-MG, abordaram o tema “Mulher no Futebol”.

Quando viu que não conseguiria se distanciar das arquibancadas alvinegras, Elen decidiu seguir no jornalismo cultural, justamente por sentir que a área esportiva não seria o mais viável dado o seu amor pelo Galo. No MBF, ela contou sobre sua história.

Cinthia resgatou termos de uma linguagem sexista e machista que paira sobre o futebol para comentar algumas situações convencionadas na modalidade. Ela citou, por exemplo, o termo “Maria”, que, quando direcionado a cruzeirenses por atleticanos, é usado em tom pejorativo e não na grandeza desse nome feminino.

Na mesma mesa, a psicóloga Bárbara Gonçalves afirmou que as invisibilidades do futebol não podem deixar de ser faladas e que, quando frequentam estádios, mulheres são muitas vezes consideradas “adornos”, “enfeites”. “É um grande avanço abrir um espaço dentro de um lugar tradicional, que é o Mineirão, para discutir temáticas que são realmente invisíveis”, afirmou.

Elen Campos, Cinthia Alves, Bárbara Gonçalves e Marina de Mattos Dantas, pesquisadora do GEFuT que foi mediadora da mesa "Mulher no Futebol" (Foto: Isabelly Morais/Assessoria EEFFTO)

Racismo no Futebol

Quantos negros ocupam cargos administrativos no futebol? Quantos atuam diretamente na gestão de clubes, em comissões técnicas? Essas foram algumas questões levantadas pelo diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, na mesa “Racismo no Futebol”, que contou também com a contribuição do professor Luciano Jorge de Jesus e com a coordenadora do Núcleo de Relações Étnico-Raciais da Prefeitura de Belo Horizonte, Mara Evaristo.

“O futebol no Brasil tem uma influência muito grande na sociedade como um todo, fora ser o principal esporte do país. É importante falar sobre o papel do negro nesse esporte e essa questão racial, já que incidentes acontecem cada vez mais”, apontou Marcelo. “Cada vez mais, temos casos de racismo no futebol”, enfatizou.

“Falar de racismo é falar de relações de poder”, afirmou Luciano, que enalteceu todas as discussões levantadas no auditório do MBF ao dizer que os preconceitos precisam ser realmente nomeados. Segundo o professor, há uma dificuldade em aceitar que o Brasil é um país racista, e que comportamentos desrespeitosos vão muito além de apenas um desvio moral.

Mara Evaristo trouxe um dado de Belo Horizonte, em que cerca de 52% da população da capital mineira é negra – o que reflete o panorama nacional, segundo estudo do IBGE de 2015. De acordo com Mara, mesmo espaço de muitos preconceitos, o futebol pode ainda ser agregador, e ela aposta na educação para tal.

Marcelo Carvalho, Luciano Jorge de Jesus, Mara Evaristo e Felipe Abrantes, pesquisador do GEFuT que mediou a mesa "Racismo no Futebol" (Foto: Isabelly Morais/Assessoria EEFFTO)

Silêncios no Futebol

Para fechar as atividades do evento, retomando e comentando sob aspectos gerais os três temas antes abordados no auditório do Museu, o radialista Elias Santos, da Rádio Inconfidência, e Silvio Ricardo, do GEFuT, comandaram a mesa “Silêncios no Futebol”.

Elias Santos e Silvio Ricardo fecharam o evento (Foto: Isabelly Morais/Assessoria EEFFTO)

Presente no dia de palestras do MBF, o professor de Educação Física da rede pública de ensino Izaú Gomes avaliou a diversidade da composição de temas e a importância disso para as suas atividades.  

“Enquanto professor de Educação Física, minha atuação vai além do conteúdo em si, que passa pela raça, pelo gênero e pelo sexismo. Sempre que tenho a disponibilidade de estar em algum evento que vá agregar algum pensamento transversal à minha formação, eu tento ir. Hoje foi muito bacana”, observou.

Izaú Gomes (Foto: Isabelly Morais/Assessoria EEFFTO)