05/12/2017 | 11:26
Por Júlia Calasans
O ano de 2017 marca o centenário da terapia ocupacional no mundo. Em razão dessa data importante, a Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) recebeu, na manhã do dia 30 de novembro, evento comemorativo que contou a presença de diversas profissionais da área para falarem sobre suas vivências na profissão. Foram convidadas Yeda Cruz e Carmem Costa, nomes históricos da TO em Minas Gerais, Marta Soares, militante ativa da luta antimanicomial e coordenadora do Suricato, Nivania Reis, profissional do setor privado, e Camilla Pimentel e Hadassa Gomes, terapeutas recém-formadas pela Escola e que têm explorado novas possibilidades de atuação.
“Essa ideia de comemorar o centenário da TO na UFMG foi algo que fizemos pensando no nosso aluno, para ele se inteirar de que essa é uma profissão relativamente nova. Queríamos que ele refletisse: olha, minha profissão vai fazer cem anos! E que ele perceba que ele é parte da constituição dessa história também, já que o curso de Terapia Ocupacional aqui da UFMG vai fazer 40 anos em 2019. Tivemos a ideia de trazer, para a comemoração, profissionais que fizeram história na área da Terapia Ocupacional em Minas Gerais. Quem são essas pessoas? É uma perspectiva que o aluno precisa ter”, disse a professora do Departamento de Terapia Ocupacional e uma das organizadoras do evento Simone Almeida.
As palestras foram iniciadas por Yeda Cruz, que discorreu sobre sua trajetória desde a formação na Faculdade De Ciências Médicas de Minas Gerais, onde, em uma turma conjunta, ela era a única aluna de terapia ocupacional entre 32 alunos de fisioterapia. Yeda foi responsável pela implementação da terapia ocupacional nos hospitais psiquiátricos da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), realizou trabalhos no Raul Soares, no Hospital de Barbacena, no Hemominas e em outros hospitais e ajudou também a implementar o estágio para alunos da TO na UFMG. “Passei por muitas áreas diferentes e fiz muitas coisas, mas nunca teria chegado onde cheguei se não fossem os meus pacientes que acreditaram em mim esse tempo todo. Só tenho a agradecer a eles”, disse.
Carmem Costa também possui história na terapia ocupacional. Formada na turma pioneira de TO da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais em 1972, ela foi professora da UFMG por trinta anos e, mais recentemente, ajudou a organizar o curso de terapia ocupacional na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Em sua fala, ela defendeu a iniciativa da UFMG de comemorar o centenário da TO não apenas como uma celebração, mas também como a conquista de um espaço.
“Falar do passado é trazê-lo para o presente, para o aqui e para o agora, para que ele entre em sintonia com as expectativas de todos os que ainda vão ser parte da profissão. E é também a conquista de um espaço nosso, da Terapia Ocupacional, que cresceu e fez muito em um tempo muito pequeno, um espaço que precisa ganhar cada vez mais abrangência”, defendeu ela.
A continuidade do evento se deu pela fala de Nivania Soares, que relatou sua experiência como professora no curso de pedagogia da PUC Minas, onde trabalha com educação especial. Ela também falou sobre sua relação com a tecnologia assistiva e sua trajetória de empreendedorismo: Nivânia é uma das criadoras da Lumen Equipamentos Terapêuticos, a primeira empresa com tecnologia assistiva com foco em adequação postural personalizada do Brasil.
“Me deixa feliz ser uma pessoa inventiva e desenvolver equipamentos e alternativas para ajudar cada paciente com a sua demanda particular. Ser terapeuta ocupacional é isso: é ver possibilidades onde a maior parte das pessoas não vê e fazer algo bom disso”, disse.
Marta Soares, que atua na gerência do Centro São Paulo de Convivência em Saúde Mental em BH, chamou a atenção para o papel da saúde mental na Terapia Ocupacional. Falando sobre suas experiências na área e sobre sua trajetória de vida desde sua formação e atuação como professora em uma escola especial em Itabirito (Mg), Marta destacou a importância da dor e de que esse conceito seja devidamente trabalhado dentro da terapia ocupacional. “A dor na saúde mental é um lugar onde não se toca”, disse ela.
A perspectiva da dor foi compartilhada por Camilla. Ela faz parte da Equipe Conviver, que realiza intervenções diretas com as vítimas sobreviventes do rompimento da barragem do Fundão em Mariana, Minas Gerais. A atuação em situação de desastre e emergência é uma perspectiva nova dentro da Terapia Ocupacional, assim como o atendimento realizado pelo grupo Conviver, que não possui uma sede própria, realizando ações coletivas em bairros e mapeando o perfil social das comunidades.
“É um atendimento completamente diferente com um contexto específico. Essas pessoas tinham uma organização social antes, que nada tem a ver com a organização de uma cidade do porte de Mariana, e a adaptação deles é difícil, porque ainda há o aguardo de que as autoridades cumpram com as medidas prometidas. Existe um sofrimento na espera”, observou ela.
O evento terminou com a fala de Hadassa, que se formou em Terapia Ocupacional pela UFMG em 2016. Ela falou sobre seu trabalho com crianças e adolescentes em situação de semiliberdade e os obstáculos e perspectivas que enxerga nessa área.
“Eu já planejei muitas atividades sozinha e quando cheguei lá na hora do atendimento descobri que o adolescente não gostava de nada que eu planejei. E aí eu tinha repensar minha intervenção completamente. Essas são coisas que se aprende na prática e que mudam nossas perspectivas sobre o trabalho. É importante que os terapeutas ocupacionais se unam em grupos e associações. É a forma que temos de fortalecer nossa profissão”, disse.
Aline Nayara, graduanda do quinto período de terapia ocupacional, esteve no evento e elogiou a iniciativa e seu formato. “É interessante porque eu nunca tinha pensado por esse ponto: o de fazer uma retrospectiva história a respeito da profissão. As coisas eram muito mais difíceis antigamente. A profissão cresceu e o mais legal é ver, pelas falas da Camilla e da Hadassa, que existe ainda mais coisa para se explorar, mais possibilidades diferentes. A profissão fez cem anos e ainda há coisas novas sendo descobertas”, afirmou.