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O desafio da Universidade na formação de atletas

17/07/2018 | 12:00

Por: Janaína Almeida e Cíntia Militina

Formar um atleta profissional de alto nível é uma tarefa das mais difíceis em qualquer lugar do mundo. Entres os países que se destacam em competições esportivas, o ambiente das universidades é um dos principais nessa formação de atletas. No Brasil, os atletas são formados, em sua maioria, nos clubes privados e, devido à falta de incentivo e de uma cultura mais forte ligada a esses esportes, não há essa tradição de formação universitária. Considerando a quantidade de instituições que temos e a extensão territorial do nosso país, o número de atletas egressos das universidades é bem inferior ao que poderia ser.

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) segue, apesar das adversidades, lutando para se manter como referências na formação de atletas, não só em Minas Gerais como no Brasil. O Centro de Treinamento Esportivo (CTE) atende, atualmente, 424 atletas nas modalidades de atletismo, Judô, Natação, Taekwondo e Triathlon, a partir do projeto “Formação de Recursos Humanos e Desenvolvimento de Pesquisa Aplicados ao Esporte de Alto Rendimento”, que é financiado pelo Ministério do Esporte. Já na modalidade de Ginástica Aeróbica da Universidade, desde 1996, aproximadamente 300 atletas foram formados, entre iniciação e elite. Em nível nacional, 80 e internacional 30.

A técnica e ex-ginasta Kátia Lemos, que é coordenadora de um programa voltado para a prática de ginástica aeróbica na UFMG ressaltou os esforços necessários para conseguir manter a preparação de alto nível dos atletas.

“Nós conseguimos criar tipo uma rede do bem. Uma rede pro-competências. Então eu tenho aqui um projeto, mas eu tenho também um amparo dos demais laboratórios. Eu tenho o Laboratório de Bio Mecânica, o LAPREV de prevenção de lesões, o Centro de Treinamento Esportivo (CTE), tenho ainda as disciplinas de estágio onde eu consigo seduzir alguns acadêmicos para estarem aqui fazendo a sua formação complementar, assim, em termos de estrutura física e científica, eu acredito que nós temos uma das melhores estruturas do país e até em nível internacional”, ressaltou. 

Técnica da Ginástica Aeróbica, Kátia Lemos, o atleta Lucas Santiago e Pedro Augusto Amorim, treinador assistente da equipe de elite do Projeto de Ginástica Aeróbica da UFMG.
Foto: Isabela Trindade/Assessoria EEFFTO

Kátia comentou ainda sobre as principais dificuldades na formação do atleta dentro da Universidade. Segundo ela, a questão financeira é a maior barreira.

“Ao mesmo tempo que a Universidade me proporciona um trânsito com as diferentes ciências do esporte, ela não tem um respaldo financeiro para isso. Um atleta de alto nível é muito caro, ele precisa competir e as principais competições são internacionais então fica caro. O Brasil apesar de ser um país de forte referência na Ginástica Aeróbica tem poucas competições e o atleta só é testado mesmo nesse processo competitivo”, explicou.

Em contraponto as dificuldades, a treinadora Kátia ressaltou que a Universidade só tem a ganhar com a formação de atletas, não só pelas conquistas individuais dos mesmos, mas por tudo que a formação de um atleta dentro da universidade envolve e trás de bom para o ambiente acadêmico

“Na verdade estamos produzindo conhecimento, então todas as disciplinas, todos os cursos que tem uma ligação direta ou indireta com o esporte, o bacharelado de educação física, a fisioterapia, na fisioterapia esportiva, a psicologia, na psicologia esportiva, a nutrição, na nutrição esportiva e áreas afins. O fato de você ter um atleta em formação aqui e não pegar um atleta fora e colocar a marca da UFMG para representar, isso é uma formação complementar assim, ímpar. Além do mais, a Universidade cumpre o seu papel social que é de retribuir pra sociedade com qualidade e com competências que só um clube privado poderia oferecer com um esporte de alto rendimento, sem custos”, ressaltou.

Um levantamento realizado pela Confederação Brasileira de Clubes (CBC) aponta que dos 465 atletas que representaram o Brasil na Olimpíada Rio 2016, 390 foram formados e treinam em clubes brasileiros, um número que equivale a 84% do total de atletas. Outras 62 entidades entre confederações, escolas, academias, ONGs e universidades complementaram o trabalho dos clubes, e revelaram os outros 16% dos atletas de alto rendimento.

O professor Márcio Viana Prudêncio, ex-atleta e técnico de atletismo, considera fundamental uma maior difusão dos diversos esportes e a valorização dos benefícios do esporte desenvolvido dentro das Universidades.

“É importante que as crianças em idade escolar vivenciem uma gama imensa de possibilidades antes de escolher a sua modalidade. Sem essa diversidade e diante da visibilidade ampla do futebol, temos o risco de nos prendermos a uma ‘mono cultura esportiva’ onde valorizamos apenas uma modalidade. Já o esporte universitário deve ser visto como fundamental pois, além de os alunos que estão na Universidade estarem uma idade ótima para receber carga de treinamento, o desenvolvimento do alto rendimento na atividade física proporciona qualidade de vida e uma maior integração entre os alunos. Precisamos vencer essa dicotomia entre estudo e esporte que é enorme no Brasil e por causa dela perdemos tanto excelentes atletas/ alunos quanto ótimos alunos/atletas”, destacou.

Entre atleta e treinador, Márcio já acumula quase 30 anos de experiência no atletismo
Foto: Janaína Almeida/Assessoria EEFFTO

Roberto de Santis, treinador do atletismo, acredita que o CTE e a UFMG vêm fazendo um grande trabalho para promover o esporte em Belo Horizonte, levando acesso a outras modalidades que não o futebol. Para o técnico, que é estrangeiro e viveu o esporte também fora do país, criar uma cultura no Brasil que priorize outros esportes é o mais importante.

“Eu sou italiano e no meu país, como aqui no Brasil, a maioria das pessoas também gostam de futebol e fazem futebol. Porém, o restante pratica outros esportes. Aqui o restante não pratica nada, o problema é esse. Na minha escola primária, os alunos faziam esgrima, um pouco de atletismo com brincadeiras ligadas à corrida além de basquete, esgrima, vôlei, tudo menos futebol, porque futebol as crianças praticavam fora da escola o tempo todo. Então, o grande desafio é quebrar esse paradigma, essa cultura brasileira forte do futebol. Temos que aumentar o número de praticantes e divulgar mais as outras modalidades como o atletismo para tentar chegar perto do que é o futebol aqui”, destacou.

Roberto está no Brasil há seis anos.
Foto: Janaína Almeida/Assessoria EEFFTO

O coordenador técnico do Judô, André Fernandes, também destacou como o CTE tem sido importante para os jovens atletas da região.

“Nós estamos criando aqui uma cultura esportiva de rendimento, então às vezes você pega um jovem que tem uma série de inseguranças por causa da condição social dele: insegurança alimentar dentro de casa, de transporte, pessoal por causa de segurança pública, então ele tem uma série de medos e receios. A partir do momento em que ele está integrado num projeto desses do CTE, ele começa a ter um pouco mais de segurança porque eles se sentem bem recebidos, respeitados e valorizados numa equipe de trabalho, sabem que se eles se dedicarem vão conseguir alcançar um resultado importante como foi esse, e aí você vai criando essa cultura esportiva dentro do CTE”, disse.

André é treinador de judô na EEFFTO/CTE há cerca de quatro anos
Foto: Assessoria EEFFTO

Nenhum outro esporte tem no Brasil a visibilidade do futebol e isso reflete na carência de recursos, bem como na formação de novos atletas. Se a criança ou o adolescente não vê outros esportes na TV, não escuta as pessoas comentando e não tem um professor na escola que incentive, ela não consegue desenvolver interesse. Os poucos que ainda procuram por algo que fuja ao futebol, esbarram na falta de estrutura. O esporte de rendimento pode significar para um jovem a chance de uma vida melhor, então, é preciso instigar e dar visibilidade as diversas modalidades esportivas para que apareçam os grandes talentos.

André Fernandes comentou ainda a questão da necessidade de uma visão diferente da que se tem hoje dos esportes de alto rendimento. Segundo o técnico, todos sabem que criar uma cultura é algo a longo prazo, que precisa de investimento e de paciência para colher fruto, mas, a UFMG, principalmente por meio do CTE tem conseguido dar os primeiros passos nesse sentido, criando raízes para uma melhor visão não só em Belo Horizonte, mas também em toda Minas Gerais e até mesmo no Brasil.

“Eu tenho percebido o sucesso individual de cada modalidade desenvolvida na Universidade. Não só o meu, mas o trabalho dos meus outros colegas, supervisores e treinadores, também tem tido sucesso. O taekwondo teve um excelente resultado, vemos resultado também no triathlo, na natação, no atletismo até tivemos uma atleta do professor Roberto convocada para seleção brasileira, e eu acho que a soma destes resultados que vai criando um CTE muito forte, um CTE referência, com toda a condição de entendimento do treinamento, da formação que a universidade tem. Talvez a maior força que a Universidade possa ter no esporte seja essa, entender que não é só formar o atleta, e sim que nós estamos formando pessoas com uma capacidade crítica alta, e pessoas que estão envolvidas num treinamento com consciência do que está sendo feito com eles aqui. A partir daí a gente vai conseguir ter uma ação mais orquestrada enquanto centro de treinamento para que a gente possa buscar esses recursos que são importantes”, finalizou.

 

Depoimentos dos Atletas: 

Lucas Santiago (Ginástica Aeróbica)

 

"A Universidade tem total papel na minha formação principalmente porque ela disponibiliza o espaço onde treinamos, então não temos que pagar para treinar, o que é uma coisa muito boa, nos incentiva bastante, e isso normalmente não acontece nos clubes. Além disso, a Universidade está sempre se preocupando com os atletas, como está o nosso ambiente de treinamento, o que eles podem proporcionar de melhor para gente, então eu só tenho a agradecer a UFMG".

 

 

 

 

 

 

 

Tamires Rebeca (Ginástica Aeróbica)  

"Desde que tive contato com o projeto da professora Kátia eu me apaixonei. Me apaixonei também por esse prédio que é encantador, por toda essa estrutura maravilhosa que temos aqui e foi assim que começou a minha carreira no esporte.

A Universidade vem sendo essencial para minha formação como atleta, eu diria até na minha formação como pessoa. Eu aprendi de tudo aqui, não só por causa do esporte, mas pela Universidade mesmo, é muito importante e enriquecedor viver essa experiência". 

 

 

 

Maria Augusta de Lima (Judô)

 "Estou no judô há um ano e foi uma mudança na minha vida.  Eu sempre penso no que eu faço para não afetar o meu desempenho. O esporte me ajudou bastante a desenvolver e melhorar o meu equilíbrio emocional, então no geral foi algo muito bom para mim".

 

 

 

 

 

Ana Caroline Miguel da Silva (Atletismo)

"O atletismo tem total influência na minha vida, eu vivo em torno do atletismo, eu vivo o atletismo, hoje ele é o foco da minha vida. Eu acredito que o atletismo vai abrir portas para tudo que eu quiser conquistar e o CTE é o caminho para chegar aos objetivos poque é na equipe que se forma um atleta. Um atleta não é formado sozinho, uma equipe boa e dedicada tem total influência no nosso crescimento e o atletismo tem forte influência pelo CTE que é muito importante na formação de atletas".