III Simpósio Internacional Futebol: "Linguagem, Artes, Cultura e Lazer" e o II Seminário "Futebol nas Gerais" | EEFFTO - UFMG  


Alto Contraste

PT ENG ESP





III Simpósio Internacional Futebol: "Linguagem, Artes, Cultura e Lazer" e o II Seminário "Futebol nas Gerais"

26/09/2018 | 08:00

Por Iago Proença e Janaína Almeida

Durante os dias 13 a 15 de setembro, o Grupo de Estudos Sobre Futebol e Torcidas (GEFUT) da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG promoveu o III Simpósio Internacional Futebol: "Linguagem, Artes, Cultura e Lazer" e o II Seminário "Futebol nas Gerais", realizado no Museu do Futebol do Mineirão. 

A cerimônia de abertura contou com participação do professor Silvio Luiz Ricardo Coordenador do GEFUT; da professora Ana Cláudia Porfírio Couto Coordenadora do CENTRO - MG da REDE CEDES; o Vice-Diretor do Centro Esportivo Universitário (CEU-UFMG); a Gerente de Comunicação e Relações Institucionais do Mineirão, Ludimila Ximenes e o Secretário de Esportes e Lazer da Prefeitura de Belo Horizonte Elberto Furtado Junior.

O coordenador do GEFUT, Silvio Ricardo comentou sobre as dificuldades encontradas pela organização para realização do Simpósio, e enalteceu toda equipe organizadora, colaboradores e parceiros que trabalharam incansavelmente para que tudo transcorresse da melhor forma possível.

"Nos tempos difíceis que estamos vivendo, tivemos a recusa de todos os órgãos de financiamento que historicamente sempre foram nossos apoiadores. Batalhamos muito para que esse evento fosse realizado e, se não fosse o trabalho árduo e cotidiano em que estamos há mais de um ano, com a participação de alunos de graduação, pós-graduação, professores, entre outros, nós não conseguiríamos fazê-lo acontecer."

Os demais participantes deram depoimentos sobre a realização do evento organizado pelo GEFUT e apontaram para importância do debate acerca da violência no/do futebol. Confira abaixo a fala dos componentes da mesa.

Ana Cláudia é docente do Departamento de Esportes da EEFFTO

"A proposta da rede CEDES é que consigamos gerar  um impacto nas políticas públicas através das pesquisas, bem como dar continuidade a política de desenvolvimento da rede a partir da mudança desse governo. Nós sabemos que temos ainda uma longa caminhada e que o trabalho é árduo, mas compete a nós, como coordenadores e participantes dos grupos, tentarmos, junto ao Ministério do Esporte, dar continuidade a isso".

 

(Ao centro) Secretário de Esportes e Lazer da PBH

 

"Se temos a oportunidade hoje de estarmos sentados nesta cadeira, é para tentarmos fazer diferente. Nós temos um histórico de violência e mortes em estádios, então precisamos dos estudiosos da área para que possamos alcançar resultados positivos e mudar essa realidade”.



 

 

Ludimila Ximenes é Graduada em Comunicação Integrada

 

"Sou mulher e às vezes participo de reuniões que tem só homens na mesa e parece que eu tenho que me esforçar muito mais quando vou me pronunciar, pelo menos para estar igual a todo mundo e como o mesmo teor para debater temas como esse. Pensando nisso,a presença da academia dentro do Mineirão é sempre muito bem vinda e de extrema importância, pois sei que essa discussão vai continuar lá fora, após o fim desse evento."

 

O evento contou ainda com a realização de sete mesas temáticas com debate acerca (As violências do/no futebol; Violências do/no futebol - o que a academia tem a dizer?; Violências raciais no/do futebol; As violências no/do futebol sob o olhar dos promotores do evento; Violências produzidas no / pelo futebol – visões da mídia; Violência contra as mulheres e a homofobia no/do futebol). A programação recebeu ainda outras quatro mesas cientificas com 14 trabalhos apresentados ao público.  

No dia 15 de setembro, os participantes do III Simpósio Internacional Futebol: "Linguagem, Artes, Cultura e Lazer" e o II Seminário "Futebol nas Gerais", foram convidados para um tour pelo estádio do Mineirão. Os participantes tiveram contato com os vestiários, as salas de imprensa e o gramado do Gigante da Pampulha. Logo após, foram iniciadas as palestras dos três convidados da manhã: O professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG (FAFICH), Carlos D’Andrea. A narradora da Rádio Inconfidência, Isabelly Morais Fernandes e, o corrdenador do departamento de esportes da Rádio Inconfidência, José Augusto Toscano.

O professor Carlos D’Ándrea é pesquisador da área de futebol e tem diversos artigos publicados sobre questões como “análises sociopolíticas da copa de 2014”, “a guerra das hastags” do #vaitercopa versus #nãovaitercopa” e, mais recentemente, realizou uma pesquisa na Holanda em torno das controvérsias da Copa de 2018.

"Meu projeto atual gira em torno das controvérsias da Copa de 2018, foi por isso que fui pra Holanda pesquisar, por lá ser um centro de novas mídias ou mais especificamente métodos digitais. Outra área em que me encontro é no estudo de ciência e tecnologia para compreender como se dá esse encaixe entre uma temática e as especificidades dos meios dos quais ela se desenrola como Facebook, Twitter, Google, etc. Então, estamos analisamos aqui práticas que são muito associadas ao ato de torcer e que se influenciam mutuamente".

Mais do que "colocar o cachecol do seu time" no computador é preciso que o torcedor entenda que as nossas práticas de torcida são cada vez mais dessociáveis de práticas midiáticas e de plataformas que usamos
Foto: Janaína Almeida/Assesoria EEFFTO

Carlos comentou como buscou abordar sua pesquisa no evento para contribuir com a discussão proposta que era sobre as diversas formas de violência no futebol.

“Eu quis mostrar aqui alguns fragmentos de alguns estudos que eu não sei se darão um todo coeso, mas certamente nos proporcionarão algo para reflexão sobre a temática. A ideia foi trabalhar essa interface de como as práticas do torcer na internet podem ser pesquisadas, como elas nos ajudam a entender o que é torcer contemporaneamente, como que as funcionalidades da internet nos dão pistas de como as pessoas se agrupam e como essas questões da violência vão aparecer às vezes de maneira mais sutil e indireta na forma como esses grupos vão se formando e se posicionando”.

Isabelly Morais, narradora de futebol da Rádio inconfidência, foi a primeira mulher a narrar um jogo de Copa do Mundo na TV através dos canais Fox Sports. Ela comentou a sua experiência dentro do jornalismo esportivo.

“Eu não pensava em ser narradora porque é muito difícil você se espelhar em uma coisa que não existe e até pouco tempo nós mulheres não nos sentíamos representadas na narração. Eu tive a experiência com a Copa de 2018, foi muito importante para a minha carreira porque eu melhorei muito, tanto que eu não gosto de ouvir a minha primeira narração, mas agora eu gosto de me ouvir. E, para além de como isso foi importante para mim, a narração de mulheres em si ficou super em evidência do ano passado pra cá e com todo esse movimento forte que vem acontecendo, está se tornado impossível as pessoas ignorem a presença da mulher nessa função também”.

Quanto mais você entra no jornalismo esportivo, mais você percebe como algumas portas são fechadas para as mulheres simplesmente por serem mulheres.
Foto: Janaína Almeida/Assessoria EEFFTO

A narradora destacou ainda a importância de eventos como este para repensarmos a forma de ver o futebol e ainda como ela se coloca diante das questões das violências que atinge as minorias no futebol.

“O tema aqui tratado é muito importante pra gente que gosta de futebol. Pra gente que olha para o futebol bem além de quem fez o gol e de como foi a jogada do jogo em si. É fundamental que tenhamos esse olhar mais sensível, mais flexível, mais atento com o que acontece no futebol. Dentro dos vários agentes sociais em torno do futebol, existe um movimento, um discurso de ódio tão grande, que tenta escantear algumas minorias, fazer com que essas pessoas entendam que ali não é o lugar delas, o espaço delas. Falando essencialmente das discussões sobre mulher no futebol, a lgbtfobia, é possível perceber um pé muito forte da ideia do futebol como algo de homem, por um viés bem viril, excluindo qualquer chance de participação de pessoas fora dessa condição e isso é muito cultural e estrutural”.

O coordenador do departamento da Rádio Inconfidência, José Augusto Toscano, compartilhou algumas histórias dos seus quase 30 anos de profissão e 14 só de Rádio Inconfidência e destacou a necessidade de se pensar o futebol dentro de um contexto mais amplo na sociedade.

“Eu fico muito chateado de ouvir daqueles aproximadamente 5% dos bem sucedidos jogadores de futebol que as coisas que acontecem dentro das 4 linhas tem que ficar ali. Eu não consigo conceber o futebol como algo a margem da sociedade, com prerrogativas especiais pra tolerar manifestações de preconceito e violência até porque eu acredito muito no esporte, não só no futebol mas falando aqui especialmente nele, como elemento catalisador para aglutinar”.

Não é politicamente correto, é o correto. Não dá pra ficar aceitando que imitar um macaco, chamar o cara de criolo, é algo normal e faz parte do jogo.
Foto: Janaína Almeida/Assessoria EEFFTO

Segundo Toscano, a mídia precisa reconhecer o seu papel e se apresentar como um órgão de enfrentamento para as questões da violência em suas mais diversas formas.

“Quando eu consegui realizar o sonho de ingressar no jornalismo esportivo eu sabia que estava entrando em num meio com o qual boa parte das suas condutas eu não comungo. Eu acho que é um reduto extremamente machista, homofóbico, racista, misógino e toda uma série de detalhes que felizmente eu não concordo. Então eu penso assim, até onde eu puder, eu der conta, até onde for a minha autonomia, até onde eu tiver amparo é minha função lutar contra isso. Não só porque eu estou à frente de um departamento de uma emissora pública mas porque acima de tudo é esse o papel do meio de comunicação”, finalizou.