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A superação de atletas brasileiros em modalidades não olímpicas

02/10/2019 | 15:15

Por Bruno Freire e Vinícius Reis

Histórias de superação são comuns no esporte de maneira geral, e isso não é diferente entre os praticantes de modalidades não olímpicas, como a Ginástica Aeróbica. Os atletas Lucas Santiago e Tamires Rebeca, ginastas da equipe da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG e multicampeões da modalidade, são exemplos vivos disso. Os jovens, que vivenciaram dificuldades em suas trajetórias, se encontram sem receber bolsa atleta há dois anos, e, mesmo assim, continuam brilhando e representando o país em grandes competições no Brasil e no mundo.

O projeto de Ginástica Aeróbica da Universidade foi criado no ano de 1996 e é coordenado pela professora do Departamento de Esportes da EEFFTO, Kátia Lucia Moreira Lemos. Lucas e Tamires, atletas formados no projeto, são destaques mundiais da modalidade, figurando na 1ª e 10ª posição do Ranking Mundial no individual masculino e feminino, respectivamente. Ocupam ainda a 2ª posição entre as duplas mistas, de acordo com o site da Federação Internacional de Ginástica (FIG).

Lucas Santiago, atleta da ginástica aeróbica da UFMG há 10 anos, relatou algumas vivências durante o período. Dentre elas, algumas adversidades como a dificuldade em conseguir recursos para participação em competições oficiais.

“Em determinados momentos, não tinha dinheiro para comprar passagem para uma viagem; tive que fazer rifas, vaquinha online e pedindo ajuda na casa dos outros. A maior dificuldade que enfrentamos foi a falta de incentivo. É muito difícil se manter no esporte, porque eu não recebo nenhum tipo de renda. Na verdade, eu tenho muitos gastos”, disse.

"Minha mãe sempre esteve muito presente, me apoiando bastante", disse.
Foto: Assessoria EEFFTO/Bruno Freire

Além disso, respondeu sobre a importância do esporte na sua vida. Segundo ele, a ginástica é a menina de seus olhos, sua paixão e o momento onde se sente mais realizado. Lucas comentou sobre como a prática esportiva o mudou e sobre seu sonho de se aposentar com a conquista do título mundial em 2020.

“Tenho convicção de que passei muito mais horas dentro do ginásio treinando, do que dentro da minha própria casa. Então, a ginástica aeróbica pra mim hoje representa muita coisa, como o amor. É o momento em que eu me sinto mais vivo na vida. Era uma pessoa toda desconcertada, descompromissada, não queria saber de nada. O esporte veio me moldando e me tornando uma pessoa melhor. Hoje, eu tenho mais compromisso com as minhas coisas, consigo ter uma visão diferente, porque através do esporte consegui conhecer outras culturas, outros lugares. Aprendi a me comportar em certos lugares que eu não sabia”, completou.

Tamires declarou viver a ginástica 24 horas por dia e, ao ser perguntada sobre o significado do esporte para ela, contou como várias novas possibilidades se abriram com a prática do esporte.

Tamires Rebeca exibe suas conquistas no Campeonato Brasileiro Caixa de Ginástica Aeróbica, ocorrido em Aracaju, Sergipe.
Foto: Assessoria EEFFTO/Bruno Freire

“A ginástica aeróbica abre horizontes na minha profissão. Porque eu gosto muito de dar treino, de ensinar ginástica, ensinar aquilo que eu gosto. Então, eu gosto muito desse lado. Curto muito também a área de fisioterapia esportiva”, afirmou.

A atleta de 20 anos, que treina de segunda a sábado e eventualmente aos domingos, completou ressaltando a disciplina e responsabilidade adquiridas graças à atividade. A ginasta comentou ainda sobre os impactos de situações difíceis enfrentadas nos últimos anos e o modo como elas a fortaleceram e ajudaram em sua evolução técnica e psicológica.  

 “Depois de tudo o que aconteceu, o que me fez continuar na ginástica foi o meu grande sonho, que é ser campeã mundial ou então representar o Brasil numa Olimpíada, depois que a aeróbica se tornar uma modalidade olímpica”, declarou.

A professora Kátia Lucia Moreira Lemos é ainda árbitra internacional e coordenadora técnica do projeto, comentou sobre a sua saída da ginástica no final deste ano e sobre o legado deixado ao longo de mais de duas décadas.

Da esquerda para direita: Pedro Augusto, Kátia Lemos e Leandro Cruz compõem a equipe técnica do projeto de Ginástica Aeróbica da UFMG
Foto: Assessoria EEFFTO/Bruno Freire

 “A ginástica aeróbica da UFMG é reconhecida como uma escola que todo mundo consegue reconhecer um atleta formado na Universidade. O trabalho aqui é diferente e é reconhecido internacionalmente. Então, acredito que esse seja nosso maior legado: mostrar para a nossa comunidade, principalmente a acadêmica, que quando você quer fazer um trabalho, quando você une forças, você pode ir muito além daquilo que seria a obrigação da UFMG fazer”, afirmou.

Apontou ainda a falta de incentivo para as modalidades não-olímpicas, ressaltando que os resultados obtidos pela equipe nos últimos anos só foram possíveis devido a uma emenda parlamentar criada pela ex-deputada federal Jô Moraes. O recurso durou 3 anos, chegando ao fim junto com o mandato da parlamentar. Além disso, a docente destacou não só os recuos, mas também os progressos do esporte nos últimos anos, principalmente com a inclusão da aeróbica na Federação Internacional de Ginástica (FIG).

“Dentro da Universidade, tivemos um avanço enorme e é por isso que a gente cria um diferencial, porque conseguimos unir a produção de conhecimento cientifico através do trabalho multidisciplinar com diferentes laboratórios da UFMG. Agora, nós tivemos retrocessos em função de tudo que o Brasil passou. Não conseguimos avançar em termos de recursos financeiros, porque a modalidade não é olímpica e, infelizmente, os recursos são sempre os últimos e os menores. Também houve recessão em todos os governos (municipal, estadual e federal). Então, para você conseguir uma verba pública está muito mais difícil. A própria Universidade não tem uma rubrica para isso, pois já oferece o treinamento de alto rendimento gratuito. Os meninos têm o que há de melhor em termos técnicos de preparação, treinamento, acompanhamento. Isso é o que a UFMG oferece. Agora, participar das competições, pagar inscrição, comprar uniforme e passagem aérea, isso tudo temos que conseguir através de outros recursos”, pontuou.