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Nota técnica UFMG: Se mantido, isolamento mitigará queda do PIB mineiro em médio prazo

20/05/2020 | 13:54

Via CEDECOM*

Se encerrar prematuramente o seu isolamento social, antes do controle da pandemia, o estado de Minas Gerais deve sofrer queda acumulada no seu Produto Interno Bruto (PIB) de até 4% nos próximos quatro anos, em relação ao que seria a sua geração de riquezas em um cenário estimado sem a pandemia. Em termos monetários, essa queda significaria uma perda econômica de cerca de R$ 69 bilhões. É o que conclui nota técnica apresentada pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG.

O documento afirma ainda que, caso mantenha o isolamento social pelo período que for necessário, como tem sido recomendado por todos os grandes organismos internacionais e pela comunidade científica mundial, a queda no PIB mineiro no próximo quadriênio, decorrente dos efeitos da doença na população, deve ficar na marca de 1%, o que seguraria as perdas na economia do estado na ordem de R$ 19 bilhões.

No estudo, dez pesquisadores de diferentes competências mobilizam metodologia que articula um modelo epidemiológico a um modelo econômico para analisar o impacto que cada uma das possíveis estratégias de isolamento disponíveis (manutenção do isolamento atual, afrouxamento do isolamento ou a sua suspensão) teria sobre a disponibilidade e o uso de mão de obra no estado de Minas Gerais e o impacto dessa disponibilidade e desse uso sobre a economia do estado.

Ao mobilizar variáveis como a relação entre demanda e oferta e avaliar “como diferentes estratégias de isolamento afetam o nível do uso da mão de obra e, por essa razão, os custos e o nível de atividade setorial”, os pesquisadores conseguiram projetar com rigor os efeitos que a pandemia deve gerar na economia de Minas Gerais em curto e em médio prazos. Em jogo, explicam, está o efeito que o índice de mortes e afastamentos gera na qualificação e disponibilidade da mão de obra.

“Cada estratégia de isolamento gera um diferente perfil/cenário de fatalidades e internações”, explicam os pesquisadores. “Associamos essas fatalidades e internações à perda de produtividade e à elevação de custos de produção, uma vez que o fator trabalho é perdido ou tem que ser substituído”, explicam. “Mesmo a substituição gera custos, já que se troca mão de obra treinada na referida função por mão de obra nova. Ainda que possa ter a mesma qualificação (ou não), a nova mão de obra desconhece os processos produtivos e gerenciais da empresa, o que afeta a produtividade”, detalham.

Preservar vidas é preservar a economia

No estudo, por meio de abordagem quantitativa, os pesquisadores reafirmam o que vem sendo defendido e demonstrado em diferentes trabalhos do Cedeplar desde o início da pandemia: diferentemente do que tem sido propagado por certos setores da sociedade, não há oposição entre salvar vidas e salvar a economia. Pelo contrário: a salvação da economia depende fundamentalmente da manutenção do isolamento e da preservação do maior número possível de vidas.

“A sociedade parece ter dificuldade em avaliar os benefícios que as estratégias de isolamento trazem, primeiramente em termos de fatalidade e infecção, e segundo, em termos econômicos”, anotam os pesquisadores. Contudo, a preservação de vidas é essencial, “tanto pela preservação da capacidade de trabalho e de consumo, como de conhecimentos e de redes de relacionamentos sociais", registram os autores.

“Mostramos neste trabalho para Minas Gerais que o isolamento social mais amplo mitiga a perda econômica em médio prazo, além de achatar a curva de infecção e trazer benefícios de saúde”, anotam os pesquisadores do Nemea. “Os resultados mostram que o maior isolamento social também tem benefícios econômicos. Poupar vidas e a capacidade de atendimento do sistema de saúde para a maioria da população é um ganho econômico relevante”, afirmam. “A conclusão é de que isolamento mais forte tanto pode produzir um PIB maior como melhores condições de saúde.”

Em relação às perdas econômicas que, mesmo mitigando-se ao máximo os efeitos da pandemia na população, ainda ocorrerão em razão da crise global, os pesquisadores lembram que “cabe aos diferentes entes federativos (federal, estadual e municipal) a articulação de políticas governamentais para a manutenção e recuperação da renda e do emprego, de forma a amenizar os impactos na vida das pessoas, na economia e na saúde”.

Autores

A nota técnica Cenários de isolamento social da Covid-19 e impactos econômicos em Minas Gerais foi publicada na última semana por pesquisadores do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea), vinculado ao Cedeplar da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG. É assinada por Aline Souza Magalhães, Débora Freire Cardoso, Edson Paulo Domingues, Rafael Saulo Marques Ribeiro e Gilvan Guedes, professores da Face, Reinaldo Santos, doutor em Demografia pelo Cedeplar,  Diego Miyajima e Thiago Simonato, doutorandos em Economia no Cedeplar, e Monique Felix e Jeferson Andrade, pesquisadores do Departamento de Estatística do Instituto de Ciências Exatas (ICEx).

*Texto de Ewerton Martins Ribeiro