Autismo na pandemia: os impactos na intervenção | EEFFTO - UFMG  


Alto Contraste

PT ENG ESP





Autismo na pandemia: os impactos na intervenção

08/04/2021 | 14:35

Por Ramon Ribeiro*

A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu o dia 2 de abril como sendo o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. A data celebra e reafirma a importância de combater o desconhecimento em relação ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) e quebrar paradigmas para uma maior inclusão e participação de pessoas com o transtorno na sociedade.

O autismo é uma condição muito diversa e afeta o desenvolvimento de cada pessoa em graus diferentes. Contudo o cenário pandêmico impactou de forma generalizada ao impor em uma realidade muito diferente para o acompanhamento dessas pessoas e também nas ações de conscientização da sociedade.

Dois projetos desenvolvidos pela Universidade Federal de Minas Gerais têm o trabalho voltado para esse público. O Programa de Atenção Interdisciplinar ao Autismo (PRAIA), uma iniciativa das professoras Ana Amélia Cardoso e Maria Luísa Nogueira Magalhães, promove a acessibilidade de conhecimento científico em intervenções interdisciplinares para pessoas com TEA. Já o Laboratório de Investigação e Intervenção no Desenvolvimento na Infância e Adolescência (IDEA) é um projeto de pesquisa que busca contribuir na informação de pais de crianças e jovens com transtornos de desenvolvimento e formas de intervenção efetivas. Ambos os programas conseguem um engajamento ativo.

Os impactos do isolamento social, associados a falta de informação sobre o autismo tem gerado dúvidas em alguns pais na identificação de indícios de algum transtorno de desenvolvimento. Uma das coordenadoras do projeto PRAIA e professora do Departamento de Psicologia da UFMG, a Dra. Maria Luísa Nogueira, frisou que os critérios de diagnósticos não mudam diante a pandemia e, caso a criança apresente os sinais de comportamento indicativo é necessário o encaminhamento a um especialista.

A profa. Maria Luísa Nogueira Magalhães é co-coordenadora do PRAIA
Foto: Arquivo pessoal

“Os critérios para o diagnóstico do autismo não mudaram frente a pandemia, no entanto o desenvolvimento infantil provavelmente está sofrendo um impacto diante de tantas restrições, de qualquer forma se a criança apresentar atraso de linguagem por exemplo, ela precisa ser encaminhada para um especialista”, comentou.

As intervenções para pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) seguiram adaptações desenvolvidas para o funcionamento remoto durante o isolamento social. As Instruções e Intervenções Assistidas pela Tecnologia (TALL) são uma forma de ação utilizando de equipamentos tecnológicos para levar aprendizado as crianças e está sendo um recurso para o tratamento remoto, sempre considerando o tempo em frente a tela adequado. Os recursos visuais principalmente têm recebido destaque uma vez que muitos autistas são considerados pensadores visuais e os artifícios imagéticos podem auxiliar muito a criança na compreensão do atual cenário pandêmico e dos novos padrões higiênicos.

A professora Maria Luísa Nogueira comenta sobre a importância de gadgets e aplicativos de caráter complementar, mas que as ações sociais interativas são imprescindíveis e podem ser realizados de forma segura apenas com os familiares responsáveis.

“As interações sociais são essenciais para o desenvolvimento da criança, no entanto as tecnologias podem ser utilizadas desde que não sejam em substituição, elas podem ser complementares”, disse.

Algumas formas indicadas para promover o contato e interação foram incorporar a criança em atividades rotineiras da casa e reservar momentos de qualidade para brincadeiras. A pesquisadora do projeto IDEA UFMG, a professora Ana Amélia Cardoso, do Departamento de Terapia Ocupacional da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO/UFMG) também ressaltou a importância do contato e interação com a família como forma de auxiliar nos tratamentos profissionais possíveis de se fazer nesse momento.

Ana Amélia é ainda docente permanente do curso de Mestrado em Estudos da Ocupação e da Especialização em Transtornos do Espectro do Autismo, ambos da UFMG
Foto: Assessoria EEFFTO/Thiago Peruch

“A comunicação acontece ao longo do dia, em diversas situações, então é impossível estimular a comunicação apenas em atendimentos especializados (seja de TO, fonoaudiologia, etc) e os profissionais sempre orientam as famílias sobre estratégias e atividades para estimular a criança em casa”, comentou.

Os familiares e responsáveis não precisam ficar com toda a carga de intervenção. Muitos dos tratamentos que antes eram presenciais, como a terapia ocupacional, foram adaptados para o formato on-line de modo síncrono e assíncrono, com o tempo e a frequência adaptadas para maior efetividade sem cansar a criança. O resultado de todas essas formas de intervenção consegue auxiliar no desenvolvimento dos jovens e crianças com TEA e é sempre importante enfatizar que o tratamento medicamentoso é prescrito somente pelo médico.

O projeto PRAIA é ativo no Instagram @praia.ufmg, onde promove conscientização através de campanhas e divulgação cientifica. Já o IDEA pode ser acessado pelo site http://www.eeffto.ufmg.br/ideia/.

*Sob supervisão de Iago Proença