Ex-aluno do curso de Educação Física da EEFFTO dá aulas práticas de esportes náuticos em Vitória - ES | EEFFTO - UFMG  


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Ex-aluno do curso de Educação Física da EEFFTO dá aulas práticas de esportes náuticos em Vitória - ES

04/07/2022 | 16:16

Por Melissa Souza*

O professor de educação física Randley Castro, formado em 2020, pela Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG, dá aulas práticas de caiaque e barco a vela para alunos do 8° ano em escola municipal de Vitória - ES. As aulas fazem parte do projeto “Educação Física escolar e esportes náuticos: uma experiência pedagógica'', no qual Randley é coordenador, como parte da pesquisa de seu mestrado orientada pela professora Ana Carolina Rigoni, do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e promove o acesso de estudantes aos esportes náuticos.

Estudantes realizam aula prática de esportes náuticos na praia da Curva da Jurema, em Vitória.
Foto: Arquivo pessoal/Fernanda Perini Santos

Randley passou em um concurso da Prefeitura de Vitória para ser professor de Educação Física na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Orlandina D’Almeida Lucas para uma turma de oitavo ano, com mais de 20 alunos. Para ele, os esportes náuticos fazem parte de uma trajetória pessoal, profissional e acadêmica e poder colocar em prática um projeto tão potente pode ser desafiador, mas o deixa muito feliz. No entanto, no início das aulas, o educador teve uma grande surpresa ao descobrir que a maioria dos estudantes nunca tiveram contato com esses esportes e que alguns não tinham interesse em conhecer tais modalidades, o que deixou claro que algo os afastava dos esportes. 

O espanto é ainda maior por Vitória ser considerada um dos pólos náuticos do Brasil e receber diversos eventos esportivos. Muitos atletas brasileiros de remo, vela e windsurf são descobertos na cidade, mas os alunos da rede pública municipal não têm acesso a eles. A situação é agravada pela restrição de alguns espaços da cidade à população de menor poder aquisitivo, uma vez que algumas áreas de uso das praias têm sido delimitadas e os aluguéis de guarda-sóis, por exemplo, serem pagos dificulta o acesso para aqueles com condições financeiras mais baixas.

“Essa questão do direito ao mar está muito presente na minha pesquisa porque eu identifiquei que os alunos não têm acesso a essas modalidades, pois são modalidades caras, muitas vezes elitizadas. Muitos alunos não frequentam a praia porque é longe de suas casas e outros nunca a frequentaram, então é uma questão de acesso”, relata o professor. 

Prática de caiaque realizada em visita à piscina da UFES
Foto: Assessoria de Comunicação da SEME/Prefeitura de Vitória

Sobre o projeto

O projeto se destaca, principalmente, por abordar um assunto inusitado e pouco explorado. As pesquisas da área normalmente são focadas em uma modalidade específica, como o stand up paddle e o surf, diferente do que Randley propõe. A ideia é ampliar a pesquisa para todas as modalidades náuticas, incluindo os esportes a vela, que utilizam a força do vento, além de fazer uma intervenção didático-pedagógica para contemplar esses esportes como conteúdo da educação física escolar.

Ao todo, foram 20 aulas com diversas atividades que prepararam os adolescentes antes de entrarem em alto mar para realizar as práticas esportivas. Inicialmente, foi feito um piquenique com os alunos em um parque da cidade para discutir a relação entre corpo e natureza, esporte de aventura, sensações e emoções ligadas à prática de esportes na natureza e direito ao esporte, ao lazer e a praia. Em seguida, uma série de atividades e brincadeiras com água foram feitas na escola para a interação dos alunos.

Dentre as atividades, foram realizadas aulas teóricas sobre o assunto, simulação de caiaque e stand up paddle utilizando skate e cabo de vassoura e visita à piscina da UFES para a prática das duas modalidades. Além disso, houve uma oficina de nós náuticos, uma palestra com uma velejadora, aula prática de como construir barquinhos de brinquedo, simulação de pesca esportiva e, por último, a prática de caiaque e barco a vela na praia.

A conclusão do projeto foi no dia 10 de junho, na qual os próprios estudantes apresentaram um festival com um compilado de todas as atividades que eles aprenderam. Os alunos realizaram oficinas de nós, de pescaria e de construção de barquinhos para outras turmas, além de terem exposto vídeos e imagens das aulas e um diário de campo em que cada aluno relatou sua experiência ao longo desse período.

Para a realização do projeto, o profesor Randley contou com o apoio da UFES, que disponibilizou o uso da piscina e a escola de vela Vix Náutica e a Agência de turismo de aventura Alma Nativa cederam todo material utilizado com os alunos de forma gratuita. Os professores das modalidades deram apoio logístico e de segurança para os alunos, assim como o Corpo de Bombeiros e os guarda-vidas da Prefeitura de Vitória forneceram suporte para as atividades na água. Além disso, todos os estudantes receberam colete salva-vidas.

 

Construção de barco à vela de brinquedo
Foto: Arquivo pessoal/Randley Castro

Impacto gerado nos estudantes

Um projeto como este pode gerar um grande impacto na vida dos adolescentes que participam dele. Esse foi o caso de alguns alunos, que acharam essas aulas de educação física as melhores de toda a vida escolar. Para outros, se Randley não tivesse proposto tais atividades, eles nunca teriam praticado as modalidades náuticas. Atualmente, o assunto da escola municipal é sobre as atividades realizadas na praia.

Quando questionado sobre o impacto causado pelo projeto na vida dos estudantes, Randley conta ter sido muito forte e que agora eles conhecem as modalidades náuticas, que eles podem relatar para outros colegas e que, agora, eles possuem uma experiência muito marcante.

“Eu tenho visto o objetivo do trabalho se concretizando no decorrer dele, porque percebo que muitos alunos mudaram sua visão sobre essas modalidades, considerando que muitos não se interessavam antes. Uma coisa que diagnostiquei no início foi que eles não tinham interesse em aprender sobre esses esportes na água e depois disso tudo, acho que eles estão mais atentos a essas práticas aqui da cidade deles”, disse.

Apesar de ter sido uma grande realização para Randley, o maior ganho foi para os alunos. As modalidades aplicadas nas aulas colocam os adolescentes em contato com uma área muito sensível, que é a relação entre ser humano e natureza. Os esportes náuticos exploram múltiplas aprendizagens, como saúde, direito ao esporte e ao lazer, esporte e rendimento, entre outros temas essenciais para a faixa etária.

Para a estudante Kamilli Almeida, da turma do oitavo ano C da EMEF  Orlandina D’Almeida Lucas, as aulas foram muito interessantes e a participação do professor juntos dos alunos fez toda a difereneça. A estudante conta, ainda, que aprendeu muito sobre os conteúdos de educação física e que, com certeza, gostaria de continuar tendo essas aulas, porque percebeu que as expectativas e o empenho dos alunos têm sido maiores.

“Basicamente nos anos anteriores não tínhamos conteúdos, pois eram praticamente todas as aulas livres e os professores não abrangiam o conteúdo para todos participarem. No momento atual, temos conteúdos específicos em relação a esportes náuticos e uma grande expectativa de novos e maiores aprendizados com o empenho que o professor atual está tendo em nos conduzir a isso”, conta Kamilli.

*Sob supervisão de Iago Proença