Dissertação da área de Estudos do Lazer aborda as representações femininas em filmes de super-heroínas | EEFFTO - UFMG  


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Dissertação da área de Estudos do Lazer aborda as representações femininas em filmes de super-heroínas

21/07/2022 | 09:15

Por Gabriela Claudino* 

A pesquisa Protagonismo e empoderamento feminino nos filmes de super-heroínas: uma análise dos filmes "Mulher-Maravilha" e "Capitã Marvel", de Juliana Pieve de Souza, aborda as representações de personagens femininas que são super-heroínas em filmes. A dissertação foi defendida em setembro de 2021, e teve orientação da Profa. Christianne Luce Gomes, docente do Departamento de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer (PPGIEL), ambos da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG. 

O objetivo do trabalho foi trazer uma discussão atual, a partir dos filmes analisados, sobre como são as representações femininas no cinema e como podem agregar para a representatividade de gênero. Segundo Juliana, o interesse em iniciar uma pesquisa veio a partir de sua participação em um grupo de estudos com a professora Christianne Gomes, mas o tema já chamava sua atenção desde a infância. Além de gostar de super-heróis e assistir a variados desenhos animados, filmes e séries com a temática, Juliana disse que sempre se incomodou com a forma como as mulheres eram representadas nessas produções.

“Ou elas tinham um papel secundário, estavam ali em função de um personagem masculino, como uma tia, uma mãe, uma namorada, a donzela em perigo, ou se elas eram super-heroínas, não tinham a mesma força, os mesmos poderes, a mesma capacidade de decisão que os homens”, comentou.

Como essas representações fizeram parte de sua formação, Juliana contou que até as brincadeiras de criança eram afetadas, pois ninguém queria brincar de ser um personagem feminino, já que os mais representativos eram sempre os personagens masculinos, como Superman, Batman, Change Dragon.

Juliana (primeira à direita) “Essa coisa da liderança sempre me incomodou. Cadê a liderança das mulheres nesses espaços?”
Foto: Arquivo Grupo LUCE.

A pesquisadora analisou os filmes “Mulher Maravilha” (2017) e “Capitã Marvel” (2019), a partir de elementos e técnicas da linguagem audiovisual, discutindo como é construído o protagonismo das personagens femininas e se elas oferecem empoderamento. Nesse processo, a autora constatou que as representações das personagens ainda precisam de ajustes.

“Em termos de enredo, os dois filmes trabalham a jornada de heroínas, então o protagonismo é verificado neles. Agora, pensando em estratégias visuais, cada um atuou de uma forma diferente. O filme ‘Mulher Maravilha’ se baseia mais no apelo à beleza da atriz, e de diferenciá-la por essa característica em relação às demais mulheres do filme, como tentativa de chamar a atenção para ela enquanto mulher bonita e sensual, enquanto ‘Capitã Marvel’ não tem esse mesmo apelo visual”, explicou. 

Com isso, comparando os filmes analisados, a autora disse que concluiu que o longa ‘Mulher Maravilha’ ainda está muito dependente da dimensão física para construir a admiração em torno da personagem principal, enquanto no ‘Capitã Marvel’, é o enredo que ganha protagonismo, mais que a imagem da atriz.

Como parte da cultura, o cinema é um dos grandes veiculadores e formadores de discursos e opiniões na sociedade. A forma como as mulheres, por exemplo, são representadas nos filmes, pode empoderar o público feminino, ou perpetuar visões e papéis estereotipados e/ou machistas sobre o gênero na sociedade. Nesse sentido, Juliana acredita que o cinema pode atuar dando  visibilidade a esses grupos, a partir de narrativas que quebrem com antigos padrões e clichês. “Acho que o papel do cinema é propor novas formas de ser e de existir no mundo. O cinema tem essa potência, esse poder de dar visibilidade ao que quer que ele queira”, disse.

Apesar disso, a mestra diz que o cinema para assistir e relaxar, sem um compromisso específico de debate social, pode continuar existindo, mas que a criticidade deve partir do público, já que em todo tipo de filme seria possível detectar formas de representação de grupos e questões sociais. Porém, o desafio é a educação da audiência, para que não seja passiva a todo conteúdo consumido.

Juliana Pieve, realizou ainda uma análise quantitativa de filmes de super-heróis que trazem mulheres no papel principal. Antes do lançamento dos filmes analisados no trabalho, havia apenas mais três produções: “Supergirl” (1984),Mulher-Gato” (2004) eElektra” (2005). Mesmo nesses filmes, é possível perceber que a construção das personagens não é devidamente realizada, pois ainda impera o enfoque apenas no corpo e na beleza física das mulheres, em uma tentativa de sempre encontrar um par romântico para elas, e até mesmo em uma porcentagem de falas inferior a dos personagens masculinos. Diante desse cenário, Juliana comentou que gostaria de ver mais produções que dessem protagonismo às mulheres, mas que explorem aspectos diferentes.

Enquanto as produções cinematográficas ainda estão no caminho da mudança, desenvolver um olhar crítico e discutir sobre as produções é importante para a construção de representatividades que sejam efetivas. A dissertação de Juliana Pieve de Souza, aplicada à área de Estudos do Lazer, colabora nesse sentido. A autora sente que contribuiu para ampliar o olhar de quem estuda e trabalha com lazer, para a análise fílmica.

“Acho que quando a gente entende o cinema como lazer e objeto de entretenimento, e se conseguimos olhar com mais crítica sobre esse objeto, a gente ganha muito mais em termos de reflexão”, disse.

Além disso, Juliana entende que seu trabalho foi importante para pensar de forma crítica a representação da mulher nesses filmes, despertando o interesse e a criticidade do público feminino para esse debate. “Acho que é mais um trabalho que vai falar sobre  a importância que é a gente ter esse olhar crítico, fazer diferente, fazer outras coisas”, declarou.

Trajetória de Juliana, na EEFFTO

Juliana Pieve entrou na EEFFTO em 2003, como aluna do curso de Educação Física/Licenciatura. Durante esse período, atuou como bolsista no Programa de Monitoria de Graduação (PMG) e também como bolsista de extensão. 

No ano de 2014, Juliana voltou à Unidade como técnico-administrativo em educação da Universidade, no cargo de Assistente em Administração. Desde então, a retomada do contato com a Universidade, trouxe para ela o desejo de retomar os estudos.

*Sob Supervisão de Iago Proença.