Terapia Ocupacional da EEFFTO realiza pesquisa com jovens em cumprimento de medidas socioeducativas | EEFFTO - UFMG  


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Terapia Ocupacional da EEFFTO realiza pesquisa com jovens em cumprimento de medidas socioeducativas

05/11/2015 | 13:00

 

 

Há dois anos a professora do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais, Luciana Assis Costa, foi contemplada em um edital da FAPEMIG que proporcionou a oportunidade de realizar uma pesquisa quantitativa e qualitativa com jovens internos em Centros Socioeducativos de Internação e nas Casas de semi-liberdade.  A pesquisa foi desenvolvida no sentido de entender quais os fatores que interferem no tempo de cumprimento da medida e quais os fatores que poderiam explicar a reentrada dos jovens no sistema.

Visita ao Corpo de Bombeiros organizada por alunas de T.O. Um dos jovens tinha o sonho de ser bombeiro (Acervo pessoal)

Para a parte quantitativa, foi cedido um banco de dados sobre 2500 jovens internados no estado de Minas Gerais. Já a parte qualitativa visou entender, a partir de entrevistas, o cotidiano desses jovens antes de cumprirem as medidas socioeducativas: como era a relação com a família, com a escola, com a vizinhança, com o crime, etc. Para tanto, foram feitas 24 entrevistas com jovens que estão em cumprimento de medidas de internação.

Os resultados possibilitaram compreender um pouco mais sobre o envolvimento dos jovens na criminalidade, além de fugir um pouco das percepções do senso comum que reduzem esses jovens ao rótulo de infratores. "Falta para a população saber quem são esses jovens, de onde eles vêm, as restrições pelas quais eles passam e passaram. O fenômeno da criminalidade é multidimensional e a responsabilidade não deve ser transferida apenas a esses jovens", diz Luciana. 

Nas duas pesquisas observa-se que esses jovens têm um perfil socioeconômico muito similar: moram em comunidades mais carentes e vulneráveis. Vivem em um contexto familiar onde a maioria das vezes a mãe é a referência da família, trabalhadora, e acabam sofrendo muito com a entrada dos filhos no crime. “A escola não consegue ser uma instituição que amplia as possibilidades de vida para esses jovens, pois acaba reproduzindo uma situação de baixa autoestima e desmotivação. O desligamento da escola acaba acontecendo muito precocemente, às vezes aos 11 ou 12 anos e a rua aparece como um espaço privilegiado de socialização”, afirma Luciana.

A partir da pesquisa também foi possível observar que o ambiente é um dos fatores que favorecem o contato desses adolescentes com o tráfico de drogas, pois grande parte mora em locais com um maior índice de criminalidade. Para esses jovens o envolvimento com o tráfico ocorre de forma “espontânea”, por meio de amigos de infância, vizinhos e os próprios familiares. Apesar de todos os riscos que estão sujeitos, o tráfico ainda traz vantagens na vida desses adolescentes o que demonstra a ausência de outras perspectivas na vida desses jovens.

Parceria entre a EEFFTO e a Secretária de Defesa Social

Há dois anos o Departamento de Terapia Ocupacional da Escola de Educação Física Fisioterapia e Terapia Ocupacional mantém uma parceria com a Secretária de Defesa Social, via a Subsecretaria de Medidas Socioeducativas - SUASE. Essa última, por sua vez, cuida da implementação das medidas socioeducativas de meio fechado, de restrição de liberdade dos jovens que cometeram algum ato infracional no estado de Minas Gerais.

A partir dessa parceria são desenvolvidas atividade para alunos do quinto período de Terapia Ocupacional que cursam a disciplina de prática nos Centros Socioeducativos de Internação e nas Casas de semi-liberdade - dois tipos de cumprimento de medida com privação de liberdade. Os alunos desenvolvem a prática e o estágio nesses locais supervisionados pela professora Luciana. Entre as atividades são realizados atendimentos em grupo, acompanhamento nos espaços da cidade, onde eles buscam conhecer a história, a origem e o cotidiano anterior ao cumprimento das medidas desses jovens de 12 a 18 anos. Os alunos buscam, a partir das vivências que os jovens portam, ampliar o repertório ocupacional desses jovens por meio de experiências nos campos do lazer, cultura, profissionalização e socialização. 

A aluna Maria Regina está no 7° período de Terapia Ocupacional e teve uma experiência muito positiva com a disciplina. “O contato é sempre muito enriquecedor e muito válido. Me permitiu sair um pouco da teoria tornando o aprendizado muito maior. Eu já havia trabalhado na Fundação Estadual do Bem Estar do Menor (Febem), mas não como profissional de Terapia Ocupacional”, conta a aluna que diz que essa prática lhe permitiu ampliar sua perspectiva sobre o tema. Maria Regina pretende trabalhar com jovens, crianças e adolescentes em situações de vulnerabilidade social.

Redução da maioridade penal

A questão da insegurança é muito grande e hoje em dia o apelo da maioria da população é pela redução da maioridade penal. Para Luciana é mais sedutor e “fácil” como tentativa de resolver o problema a curto prazo, e não a partir das causas. "A sociedade no geral desconhece o sistema e o resultado das medidas socioeducativas e há uma descrença, uma falta de aposta nesses jovens. Junto a isto, o custo de pensar e atuar em elementos estruturais, com a ampliação das políticas sociais, melhoria das condições de vida dos jovens, e o enfrentamento do tráfico e consumo de drogas, que envolve questões políticas, econômicas que não se reduzem ao comportamento desses jovens, representa um custo muito elevado para o Estado", ressalta a professora destacando que os jovens em situação de vulnerabilidade social acabam sendo os únicos responsáveis pela problemática.  

“Quando entendemos a história desses jovens, vemos o quanto é perverso responsabiliza-los sem considerar toda a complexidade do fenômeno” , completa Luciana.