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Joanna Maranhão: “Fui abusada, mas combato a cultura do ódio. Justiça punitiva não é solução”

24/10/2017

Boa fase emocional e nas piscinas. Ou, em suas palavras, a busca incessante pelo “estado de flow”. Aos 30 anos, Joanna Maranhão comemora a evolução nas competições e a maturidade para administrar o sentimento de ser uma estranha no ninho do esporte de alto rendimento.. A nadadora desbrava uma nova jornada desde o início do ano pela equipe da Unisanta, em Santos, litoral paulista, onde treina uma semana por mês. No restante dos dias, quando não está competindo, vive em Belo Horizonte com o marido, o judoca Luciano Corrêa, e cumpre a rotina de treinos recomendada por seu staff no centro de treinamento da Universidade Federal de Mina Gerais. Ela tem se engajado cada vez mais no debate político, que ajudou a romper a bolha que a blindava do mundo alheio à natação. Hoje, concilia o papel de ativista com o de atleta, sem se envergonhar das fases em que não se permitia ser uma coisa nem outra.

A construção

Quando leu Simone de Beauvoir pela primeira vez, Joanna logo descobriu-se feminista. E machista, também. Bem antes, o esporte brasileiro a descobriu como o novo fenômeno da natação. Aos 17 anos, já estava na Olimpíada de 2004 e alcançou um impactante quinto lugar na prova dos 400 metros medley. Porém, uma década mais tarde, o fenômeno que despontara em Sydney anunciava sua aposentadoria do esporte. Quedas de performance e desilusões com a modalidade a fizeram abandonar a carreira, mas o sonho de disputar uma Olimpíada no Brasil falou mais alto. Acabou não se classificando para as finais dos 200 metros medley e borboleta e deixou a Rio 2016 sem uma medalha. No final do ano, ainda foi despedida do Pinheiros. Parecia que a atleta Joanna havia cruzado, enfim, a linha de chegada. Mas era apenas o recomeço.

Pergunta. Onde encontrou forças para não desistir após o insucesso na Olimpíada e a dispensa do Pinheiros?

Resposta. Eu não queria mais saber de nadar. A saída do Pinheiros foi uma porrada grande naquele momento. Desisti de lutar contra o sistema. Mas meu marido me disse que eu deveria escolher a hora de parar, não eles. Não posso negar que o fato de ter sido mandada embora do Pinheiros me motivou. O diretor técnico falou que o clube não enxergava perspectiva de futuro para mim pelo avanço da minha idade. Depois de eu ter sido extremamente profissional, eles foram bastante desrespeitosos comigo. Sem contar o traço de misoginia. Eles mantiveram outros três atletas com 30 anos ou mais. Mas são todos homens. Eu era a única mulher. Duvidaram da minha capacidade. E então eu resolvi me desafiar. Essa dispensa acabou sendo um combo motivacional para mim.

P. O atleta depende de desafios constantes para render o máximo?

Confira aqui o texto na íntegra