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Calçado imita o solo natural para crianças cada vez mais urbanas

17/12/2019

Cientista diz que sapatinho evita problemas ortopédicos no futuro; estudos mostram que 70% dos pequenos têm alguma anormalidade nos pés até os 7 anos

Litza Mattos
17/12/19 - 06h00

Muito mais do que uma atividade lúdica, pisar na areia, na terra ou na grama ajuda a modificar e a desenvolver a musculatura dos pés. E isso evita diversos problemas ortopédicos, cada vez mais comuns entre as crianças urbanas. Ao descobrir que seria tia, a designer e pesquisadora Ana Paula Lage voltou seu olhar para esse universo e criou um sapato infantil que simula a caminhada descalço em solo natural.

“Ao buscar entender como esse pé se desenvolve, descobri o quanto o estímulo a ele nos primeiros anos de vida é importante para a saúde do sistema musculoesquelético, para o resto da vida, e o quanto isso é negligenciado”, afirma Ana.

De acordo com a pesquisadora, mais de 70% das crianças chegam aos 7 anos (quando o desenvolvimento da estrutura do pé se finaliza) com problemas nos pés, desde patologias comuns, como pé plano e pisada torta, até anormalidades mais complexas – somente 2% nascem com alguma doença.

“Vivemos num mundo em que o nosso corpo não evoluiu para viver, ou seja, temos um corpo pré-histórico vivendo em um mundo altamente moderno. E uma das coisas que alteram esse desenvolvimento é onde a gente pisa. A areia, a terra e a grama levam a criança a fazer força para se equilibrar, mas hoje elas não têm esse tipo de superfície para caminhar. Andam em um chão reto, que não cria nenhum desafio para o desenvolvimento da musculatura”, explica Ana.

O calçado desenvolvido possui material flexível, solado irregular e palmilha feita de microesferas que se adaptam a cada pezinho e a cada pisada. Toda a estrutura de tecido ativa a musculatura interna do pé da criança e auxilia no posicionamento para caminhar.

“Um pé fraco pode trazer vários problemas para os próprios pés, para os joelhos, para os quadris, na vida adulta ou até mesmo na infância”, afirma o fisioterapeuta da UFMG Thales Rezende.

Testes

Após quatro anos de pesquisas, o sapatinho então batizado de Noeh foi testado por fisioterapeutas da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O calçado foi avaliado em 28 crianças, de 11 a 17 meses de idade, para análise de marcha e exames de eletromiografia muscular (monitoramento das células dos músculos). Além disso, o produto foi comparado com os de outras 16 marcas.

“Constatou-se, também, que o calçado é o que mais estimula a formação do arco plantar (a curva do pezinho), com uma diferença de mais de 50% em relação ao calçado mais próximo, possibilitando evitar pés planos, pisada torta e demais anormalidades do nosso sistema musculoesquelético”, diz Ana.