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Trabalhadores noturnos são mais expostos a coronavírus, diz estudo da UFMG

21/05/2020


Pessoas que trabalham em um horário diferente a cada dia ou que sempre atuam no período da noite sofrem alterações no sistema imunológico

Rafaela Mansur
21/05/20 - 16h58

Pessoas que trabalham em turnos diferentes a cada dia ou que trabalham sempre no turno da noite, como é o caso de muitos médicos, enfermeiros e outros profissionais que estão 5 na linha de frente no combate à pandemia, são mais expostas ao coronavírus, devido a alterações no sistema imunológico. As conclusões são de um estudo realizado por professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

De acordo com o estudo, os vírus, de maneira geral, induzem uma resposta de estresse nas moléculas infectadas. O organismo possui diversas moléculas capazes de defendê-lo contra as infecções, e algumas delas possuem memória imunológica e, por isso, conseguem agir com com mais rapidez no combate. Há, ainda, moléculas que agem no controle imediato da infecção. O sono é fundamental para a produção, manutenção e o equilíbrio dessas moléculas, e a falta deles faz com que elas não sejam produzidas de forma suficiente.

O estudo aponta que, a longo prazo, o trabalho em turnos rotativos pode causar repercussões no sistema imunológico e atenuar a responsividade. Os autores citam um estudo publicado em 2008 que mostrou que médicos japoneses do departamento de emergência que atuavam em turnos, especialmente os que trabalhavam durante a noite, tiveram um número maior de infecções respiratórias, como resfriados e gripes, em comparação com aqueles que trabalhavam em turnos diurnos.

"Na literatura, de forma geral, os pesquisadores têm mostrado que as pessoas que trabalham em turnos – hoje pela manhã, amanhã à tarde, outro dia à noite, cada dia em um horário diferente – ou aquelas que trabalham sempre à noite têm alterações no sistema imunológico, porque elas não dormem a quantidade o tempo que deveriam dormir", afirma o professor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG,
Marco Túlio de Mello. "Isso ocorre porque, quando temos que dormir durante o período claro do dia, normalmente, o organismo não responde da maneira adequada, e acabamos ficando mais tempo acordados", explica.

Segundo ele, estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam grande incidência de câncer entre esses trabalhadores, após a aposentadoria. "A hipótese principal é que o sono no ciclo claro não tem a mesma liberação de melatonina do que o das pessoas que dormem à noite e ficam acordadas durante o dia. Isso, a longo prazo, faz com que a resposta do sistema imunológico diminua", pontua.

O professor destaca, ainda, que pessoas que dormem de dia ou trabalham em turnos sofrem alterações na composição corporal: elas trocam o músculo por gordura. Nem mesmo o exercício físico e o aspecto alimentar conseguem reverter essa perda de massa magra nesses casos. Há também um estudo que mostra que a vacinação de trabalhadores por turnos ou noturnos é menos efetiva. "Quando eles vacinam, a vacina não pega ou, quando pega, é necessário tomar mais doses", afirma o professor. Segundo ele, o estudo analisou vacinas de meningite, mas a ideia é que a mesma lógica prevaleça para todas. 

"O que a gente tentou mostrar é que esses trabalhadores que estão na linha de frente da Covid-19, como médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, seguranças e radiologistas, ou os que trabalham em outras áreas nesses horários acabam ficando mais expostos à doença, porque o sistema imunológico não responde tão bem", conclui Mello.

"Essas pessoas vão ter que ter mais cuidados, ficar mais protegidas, lavar mais as mãos. Mas, ainda assim, se elas não dormirem, vão ficar muito expostas ao vírus. E, se elas pegarem, podem apresentar sintomas que não apresentariam se o sistema imunológico estivesse bom", completa.

De acordo com o professor, a média da população é de cerca de oito horas por dia de sono, mais precisamente sete horas e 40 minutos. Mas isso varia: algumas pessoas precisam dormir menos e outras mais para se recuperarem para o dia seguinte.