09/09/2016 | 09:00
O futebol pode ser um assunto a ser explorado muito além da prática do esporte. Partindo dessa perspectiva, dois núcleos da UFMG, que têm em comum a missão de estudar o futebol em seus diversos âmbitos, deram início aos trabalhos do II Simpósio Futebol, Linguagem, Artes, Cultura e Lazer. O evento começou na quinta-feira, 08 de setembro, no Museu Brasileiro do Futebol do Estádio Mineirão, e vai até até sábado, 10.
Os núcleos, que mantiveram a parceira desde a primeira edição do Simpósio, ocorrida em 2013, são o Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcida (GEFuT), da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO), e o Núcleo de Estudos sobre Futebol, Linguagem e Artes (FULIA), da Faculdade de Letras (FALE).
Para o coordenador do GEFuT e professor da EEFFTO, Silvio Ricardo da Silva, há uma carência de estudos sobre futebol no Brasil e o evento tenta preencher essa lacuna. “O Simpósio tenta ocupar esse espaço vago, para dar maior visibilidade e tentar mostrar um pouco do estado da arte e dos estudos sobre futebol no Brasil, em diversas áreas”, apontou Silvio.
Coordenador do FULIA, o professor da FALE, Elcio Loureiro Cornelsen, apontou para o valor de unir dois grupos que, embora atuantes no contexto do futebol, têm contribuições diferentes sobre o tema. “Temos um bom diálogo, que amplia o alvo da abordagem. Nós do FULIA entramos com um aspecto artístico, cultural e literário. É uma somatória de campos”, disse Elcio.
A primeira atividade do Simpósio foi a transmissão do programa do GEFuT, Óbvio Ululante, que vai ao ar na Rádio UFMG Educativa (104,5) toda quarta-feira, de 18h à 19h. Direto do Mineirão e em dia atípico, o programa adiantou todas as temáticas propostas para discussão no decorrer dos três dias de evento, apresentando também os palestrantes.
Depois do Óbvio Ululante, o Simpósio foi declaradamente aberto por Elcio Loureiro, que compôs a mesa de abertura ao lado de Georg Otte, coordenador da Pós-graduação em Estudos Literários da FALE, e Ludmila Ximenes Resende, Relações Institucionais do Estádio Mineirão. Ludmila potencializou a disponibilidade do Estádio para receber ricas discussões sobre futebol e que trazem o Gigante da Pampulha para um contexto extra-campo.
Além deles, também compuseram a mesa, o coordenador do Museu Brasileiro do Futebol, Thiago Carlos Costa, que já foi aluno da UFMG, e o Pró-reitor de Assuntos Estudantis da Universidade e ex-aluno da EEFFTO, Tarcísio Mário Vago.
GEFuT: 10 anos
O Simpósio marcou o aniversário do GEFuT, que completa 10 anos neste mês de setembro. Em espaço dedicado ao grupo, o professor Silvio Ricardo, fundador e coordenador, relembrou os motivos que impulsionaram-no a criar o GEFuT junto de alguns alunos de graduação há 10 anos.
“Uma década vivida nos convida a lembranças, reflexões e projeções. As lembranças iniciam com reuniões no meu gabinete, entre eu e poucos alunos de graduação. Os sentimentos que nos moveram naquele momento para a criação do grupo foi dar visibilidade acadêmica ao futebol mineiro e contribuir com políticas que trouxessem melhorias para o futebol, mais especificamente aos torcedores e torcedoras. A partir daí fomos a campo”, contou o professor.
Do gabinete de Silvio a campo, o GEFuT buscou aumentar o interesse das pessoas pelo futebol, difundindo a ideia de que esse esporte vai além da paixão. O futebol é uma possibilidade de ensino, de relações pessoais, e que dentro do GEFuT sempre foi estudado por quem tem apreço por ele, como diz Silvio.
“Hoje o grupo tem graduandos, mestres e mestrandos, doutores e doutorandos, colaboradores internacionais, projetos conjuntos, parcerias com outros grupos, e não perdeu sua característica de ser formado por pessoas que gostam de futebol. Pessoas que não o veem apenas como um tema a ser estudado, mas que estudam porque querem seu melhor”, afirmou Silvio.
Em comemoração aos 10 anos do GEFuT, foi organizada uma exposição, com algumas mudanças do grupo ao longo de tempo, onde numa espécie de linha do tempo, histórias do GEFuT foram contadas.
Autor do prefácio do livro “O futebol nas Gerais”, organizado por Silvio Ricardo da Silva, José Alfredo de O. Debortoli e Tiago Felipe da Silva, o professor Tarcísio Mário não deixou de parabenizar o GEFut, ainda na mesa de abertura, relembrando uma parte de seu prefácio.
“Um grupo assim [como o GEFuT] merece atenção, precisa ser lido, escutado e provocado, como nos provoca a continuar pesquisando e escrevendo sobre nós e esse futebol em que todos temos histórias”, recontou Tarcísio.
Exposição "Mulheres no Futebol"
A professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora do Centro de Memória do Esporte da UFRGS, Silvana Vilodre Goellner, apresentou a exposição “Mulheres no Futebol”, ao lado de Ana Bonfim, do Museu Brasileiro do Futebol do Estádio Pacaembu, em São Paulo.
“É uma alegria muito grande estar aqui neste momento. As mulheres no futebol estão sendo colocadas em um lugar que eu nunca imaginaria, então gostaria de agradecer ao Museu do Futebol [do Pacaembu-SP] e ao Mineirão, pela oportunidade de acatar esses termos de consultas”, analisou a professora.
O agradecimento à organização do Estádio da capital mineira se deu ao fato de a exposição ter chegado agora ao Museu Brasileiro do Futebol do Mineirão. Ela conta com homenagens a mulheres que atuam/atuaram pelo futebol brasileiro, num trabalho que começou em 2014. De lá para cá, foram feitas pesquisas em jornais e fotografias, contatos com atletas, árbitras, treinadoras e jornalistas. “ Foi o projeto mais bonito que eu já participei”, apontou Silvana.
Pelos olhos da Europa
Na atividade que fechou a noite, o professor da Universidade de Valencia-ESP Ramon Llopis Goig esteve à frente da primeira conferência do Simpósio, cujo título foi “Europeización y transnacionalismo en el fútbol europeo. Conclusiones derivadas del Proyecto FREE”, e o tema, “O continente europeu e sua influência nos modos de se produzir e vivenciar o futebol no mundo”.
O pesquisador abordou os resultados do Projeto FREE, uma união de nove estudiosos de oito países diferentes. Nesse projeto, foram coletados dados referentes à relação que torcedores de alguns países europeus tinham com o futebol. Através de uma pesquisa quantitativa, também foi possível mensurar o interesse desse torcedores por futebol masculino e feminino, e por times do seu próprio país ou por um de fora, por exemplo.