Além da prática: Simpósio Internacional reúne estudos variados no âmbito do futebol

12/09/2016 | 18:08

Muito além dos campos e do pragmatismo do futebol, o II Simpósio Futebol, Linguagem, Artes, Cultura e Lazer seguiu apresentando trabalhos e estudos referentes a diversos desdobramentos desse esporte. O evento aconteceu no Museu Brasileiro do Futebol do Estádio Mineirão, entre os dias 08 e 10 de setembro.

Organizado pelo Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas (GEFuT), da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO), e pelo Núcleo de Estudos sobre Futebol, Linguagem e Artes (FULIA), da Faculdade de Letras (FALE), o Simpósio teve uma exposição em comemoração aos 10 anos do GEFuT, apresentação de uma outra denominada “Mulheres no Futebol” e uma palestra sobre estudos do torcer em vários países europeus no primeiro dia (8).

Rolando a bola, os trabalhos seguiram com abordagens do futebol no campo das ciências sociais, humanas, econômicas, no campo da linguística, da geografia, da Letras, com mesas temáticas e sessões de comunicação.
 

Segundo dia do Simpósio tem abordagens no campo da geografia, da Letras e discussões de gênero

MESA 1: Análise e perspectiva da produção do futebol nos campos de estudos de Gênero e Geografia

A professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Silvana Vilodre Goellner, participou da mesa e apresentou a palestra intitulada “Futebol e Gênero”. Há mais de 20 anos trabalhando com a temática da mulher no esporte, Silvana tem voltado seus estudos para o futebol e as mulheres há algum tempo.

Segundo a professora, no esporte há desigualdades gritantes em torno da inserção, ascensão e permanência da mulher, onde elas sofrem por marcadores como o gênero, a raça, a etnia e a classe social. Silvana vê a participação das mulheres no futebol como um exercício de liberdade, sociabilidade, empoderamento e renda, e apontou algumas implicações culturais sobre representações criadas acerca de gênero no tempo.

 

Na mesma mesa, mas com o tema “Futebol e Direito à Cidade: a política do estádio”, o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Gilmar Mascarenhas, partiu para o campo da geografia.  Para ele, houve uma elitização dos estádios, movimento que aconteceu no Brasil, de forma mais intensa, para a Copa do Mundo FIFA 2014. Segundo Gilmar, isso afastou torcedores menos favorecidos e acabou com muitas práticas no entorno dos estádios.
 

MESA 2: Análise e perspectiva da produção sobre futebol no Brasil: entre dados e experiências

O jogo seguiu com a mesa 2, cujo tema foi “Análise e perspectiva da produção sobre futebol no Brasil: entre dados e experiências”. A primeira palestrante foi Priscila Campos, doutora em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e membra do GEFuT. Ela apresentou um mapeamento de estudos sobre o futebol no âmbito das ciências humanas e sociais.

 

O sociólogo Mauricio Murad também participou da mesa, com o tema “Futebol e universidade no Brasil, a partir de 1990”. Ele integrou o primeiro núcleo de estudos permanente das ciências  sociais aplicadas ao âmbito do futebol e compartilhou sua experiência, em complemento ao panorama que Priscila Campos mostrou anteriormente.
 

MESA 3: Análise e perspectiva da produção do futebol no campo da Linguagem, das Artes e da História

Na última mesa do segundo dia do Simpósio, Priscila Campos e Mauricio Murad tocaram a bola para o professor da Faculdade de Letras (FALE) da UFMG e membro do FULIA, Elcio Cornelsen, e para o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Bernardo Borges Buarque de Hollanda, que finalizaram com abordagens do futebol no campo de Letras.

Elcio mostrou algumas obras ao longo do tempo sobre futebol, até de quando ele ainda não era um esporte popular e massificado como é nos dias hoje. Quando isso aconteceu, houve um outro tratamento em termos de linguagem. Segundo o professor, o futebol levou um tempo para surgir como um tema efetivo no campo literário.

 

Complementando a mesa, o professor Bernardo Borges Buarque de Hollanda fez uma análise de produções em níveis de pós-graduação, dissertações e teses, apresentando inúmeros trabalhos do futebol no campo da História e da Literatura.

Encerrando as atividades do segundo dia do Simpósio, foram lançados livros “Futebol, Artes, Cultura e Lazer”, organizado por Elcio Cornelsen, Günther Au­gustin e Silvio Ricardo da Silva;  “O ensino do futebol: para além da bola rolando”, de Silvio Ricardo da Silva, Leandro Batista Cordeiro e Priscila Augusta Ferreira Campos, e “Os Gaviões da Fiel: ensaios e etnografias de uma torcida organizada de futebol”, de Bernardo Borges Buarque de Hollanda e Plinio Labriola Negreiros.

Foram transmitidos os documentários “A Voz da Arquibancada”, um trabalho feito com as torcidas organizadas dos quatro maiores clubes de futebol do Rio de Janeiro, que trata da criação da Federação de Trocidas Organizadas do Rio de Janeiro (FTORJ) em 2008, e “Territórios do torcer”. Nesse último, com a quatros maiores organizadas dos clubes de São Paulo, foi contada a criação dos grupos na era da ditadura, proibição das torcidas organizadas e conversão das torcidas em escolas de samba.
 

Último dia do Simpósio é marcado por várias sessões de debates e futebol sob viés econômico

MESA 4: Análise e perspectiva da produção do futebol nos campos de Gestão Esportiva e das Ciências Sociais

No último dia do Simpósio, 10 de setembro, quem abriu os trabalhos foi a dupla Marcelo Weishaupt Proni, professor da Unicamp, e Arlei Damo, da UFRGS, na mesa “Análise e perspectiva da produção do futebol nos campos de Gestão Esportiva e das Ciências Sociais”.

Arlei Damo, apresentou a palestra “O futebol tem futuro nas ciências humanas brasileiras?”, onde comentou criticamente, em um primeiro momento, a produção de Roberto DaMatta. Depois avaliou dados de uma pesquisa realizada por Getúlio Sangalli  Reale, que ajuda na compreensão de como o marketing está performando o futebol.

 

Dando sequência à mesa, Marcelo Proni apresentou a palestra “O futebol como objeto de estudo da Ciência Econômica”, apontando três frentes que norteiam os estudos do futebol nesse campo: economia política do futebol-empresa, análise macro e microeconômica.
 

Mesas de comunicação

Acabadas as conferências, os participantes foram para as dependências da EEFFTO, onde eram esperados por nove mesas de comunicação, com diferentes temas. Cada mesa contou com a apresentação de cerca de três trabalhos acadêmicos que abordavam o futebol nas suas mais variadas linhas de pesquisa. As atividades contaram com produções sobre o futebol analisado a partir da perspectiva da educação, da história, da sociologia, das opressões de gênero, das relações do torcer entre outros campos das ciências humanas e sociais.
 

Mesa 5: “Produção acadêmica sobre futebol na Argentina. Análises e perspectivas"

Simpósio chega ao fim e é bem avaliado

Para a mestranda da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Mariana Novais, o Simpósio foi enriquecedor em termos de conteúdo, indo além do que esperava. “A programação e os palestrantes já eram atrativos por si só, mas a maneira como foi conduzido e o espaço criado para debate e integração foram fatores diferenciados. Dessa forma, surgiram discussões e reflexões muito ricas”, analisou Mariana.       

                                     

Depois de inúmeras palestras e mesas de debate envolvendo várias abordagens do universo do futebol, o Simpósio foi encerrado pelo professor da EEFFTO e coordenador do GEFuT, Silvio Ricardo, que pontuou o valor de eventos como esse para a produção acadêmica no âmbito desse esporte.

“Eu acho que isso que nós fazemos é muito importante para o desenvolvimento dos estudos do futebol e também para tentarmos, de alguma forma, influenciar na política que envolve esse esporte. O momento é de alegria muito grande por ter vivenciado esses três dias aqui, juntos. Esperamos que esse evento traga desdobramentos de mais publicações e relações locais”, disse Silvio.