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EEFFTO recebe atletas e jornalista para debater desigualdades de gênero no esporte

24/03/2017 | 10:03

Ser um atleta que chega ao nível de alto rendimento não é uma missão nada fácil para qualquer jovem brasileiro. A necessidade de estrutura para treinos, a falta de investimento do Estado em esporte, as condições de apoio da família e os problemas financeiros são algumas das dificuldades a serem enfrentadas. E se esse jovem for do sexo feminino, existem ainda outros desafios pelo caminho. Esses outros obstáculos foram tema da mesa “Mulheres no esporte”, ocorrida na última terça-feira, 21 de março, na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG.

A nadadora Joanna Maranhão, a jogadora de futsal Natália Scalabrini e a jornalista esportiva Luciane Castro foram as convidadas a conduzir o debate, que se transformou em uma conversa e troca de experiências com a plateia, majoritariamente formada por mulheres.

Machismo, desigualdade salarial, invisibilidade midiática, maternidade e políticas públicas foram alguns dos temas presentes nos relatos e opiniões de todas elas. A oportunidade de discutir essas questões surgiu através da programação da semana de recepção de calouros da UFMG, organizada pelo  Diretório Central dos Estudantes (DCE - UFMG), em parceria com a organização da Semana do Esporte (Liga das Atléticas e Núcleo de Esportes do DCE) .

A plateia interagiu com as convidadas através de relatos e perguntas

Joanna Maranhão é atualmente um dos nomes mais conhecidos da natação brasileira. Além do bom desempenho em competições e as diversas medalhas, a atleta também é famosa por ser considerada uma mulher de discurso “politizado”, e que expressa suas opiniões publicamente. Durante a mesa, ela falou sobre a importância de que atletas se posicionem diante das desigualdades dentro e fora do esporte. “Sempre tive apoio emocional e financeiro da minha família. Isso é um privilégio, principalmente onde eu nasci  (Pernambuco), lugar em que a maioria das meninas não tem oportunidade de ser uma atleta. É importante que nós que chegamos ao alto rendimento sejamos incansáveis na tarefa de cobrar condições para que esse sonho seja possível para mais meninas no Brasil”, disse a nadadora.

A nadadora Joanna Maranhão possui diversas medalhas em competições internacionias

A outra participante da mesa, a jornalista especialista em futebol feminino Luciane Castro, reiterou a fala de Joanna e trouxe vários relatos sobre a precarização com que as jogadoras de futebol no Brasil precisam lidar para resistir na modalidade. Baixos salários, falta de patrocínio e de investimentos públicos, má gestão administrativa dos clubes, boicotes da mídia tradicional e o machismo estrutural da sociedade são alguns dos problemas que impedem o desenvolvimento dos clubes femininos.

Luciane Castro é especialista em futebol feminino

Apesar de todas as dificuldades, Luciane diz que é apaixonada pelo que faz e que seu trabalho é militância. “A gente se torna jornalista militante em pouco tempo porque nos apegamos ao futebol feminino. Começamos a pensar em tudo que precisamos fazer para mudar esse quadro. Quem se envolve, não deixa de ser jornalista, mas milita muito mais. Existe muita gente mal intencionada na modalidade. É preciso ouvir, observar e juntar-se aos bons. É fácil comprar um discurso falacioso sobre futebol feminino. Mas é um universo apaixonante, que não dá vontade de parar”, afirmou a jornalista.

Para a jogadora de futsal e graduada em educação física pela EEFFTO, Natália Scalabrini, a realidade comentada por Luciane é algo bem próximo a sua experiência como atleta. Para além dessas questões, ela falou sobre a dificuldade de enfrentar o machismo também nas esferas pessoais. “A cultura da desigualdade está presente em todos os espaços, na divisão de tarefas domésticas, na educação física escolar, nos comentários dos técnicos e em todas as relações onde uma mulher precisa provar duas vezes que pode fazer algo que os homens já fazem sem serem cobrados”, disse Natália.

Scalabrini é campeã brasileira de futsal 

Para uma das organizadoras e mediadoras do evento, a estudante de pós-graduação em Estudos do Lazer, Brisa de Assis Pereira, as questões levantadas no debate são essenciais para repensar as formas como as mulheres estão inseridas no mundo esportivo. "Elas trazem três perspectivas diferentes e experiências para além das já discutidas na universidade", explicou a mestranda.

Diana Miranda (ao fundo) e Brisa de Assis foram mediadoras da mesa

A mesa, que começou às 16:30, durou cerca de duas horas e foi transmitida ao vivo via live de facebook pela página do DCE UFMG. A importância de discutir as pautas a respeito das opressões das mulheres também foi comentada pelas participantes. A nadadora Joanna Maranhão disse que se sente feliz em ser chamada para espaços em que existe a possibilidade de falar sobre temas para além de suas experiências e projetos na carreira. "Procuro sempre estar presente nesses espaços, pois aprendo muito ouvindo os outros relatos de mulheres que estão envolvidas com o esporte de alguma forma. Eu sou otimista com os avanços da luta das mulheres, acho que aqui no Brasil estamos descobrindo nosso feminismo e um passo importante é podermos verbalizar sobre isso e sermos ouvidas", declarou Joanna.