Equipe de futsal feminino da UFMG encerra mais um ano com vitórias e resistência na modalidade | EEFFTO - UFMG  


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Equipe de futsal feminino da UFMG encerra mais um ano com vitórias e resistência na modalidade

19/12/2017 | 09:37

Por Júlia Calasans

A história das mulheres no esporte é permeada pela luta por reconhecimento social e pela superação do machismo e do sexismo. Na UFMG, o time de futsal feminino já tem 12 anos de existência e vem ganhando cada vez mais visibilidade. Mas nem sempre foi assim, pois o Brasil viveu períodos de proibição das mulheres no esporte. Em 1941, Getúlio Vargas decretou a proibição da prática de esportes pelas mulheres, que teve seus limites definidos durante a Ditadura Militar: eram vetadas às mulheres as práticas de lutas de qualquer natureza, do futebol, futebol de salão, futebol de praia, do polo aquático, polo, do rugby, do halterofilismo e do baseball.

As proibições legais e a ideia cultural de que o "mundo" do esporte não era para as mulheres atravessou décadas e impactou diretamente na prática de algumas modalidades, como o futsal, por exemplo. Ao contrário da Seleção Masculina, que existe desde 1969, a primeira Seleção Feminina de Futsal só veio a ser criada em 2003.

Dentro do país, as competições são escassas: a última Liga Nacional de Futsal Feminino aconteceu em 2014, o que obriga as atletas a praticarem em torneios regionais, reunindo-se apenas uma vez por ano para o mundial. Apesar das adversidades, porém, a seleção vem conseguindo bons resultados: ganhou seis anos seguidos o Torneio Mundial de Futsal Feminino, entre os anos de 2010 e 2015, e possui atualmente nomes como Amandinha, três vezes eleita como a melhor jogadora de futsal do mundo.

Amanda Lyssa, a Amandinha, joga pelo time Leoas da Serra e é estudante de fisioterapia pela  Uniasselvi (SC). 
Foto: Divulgação/CBFS

Essas conquistas servem de inspiração e apontam caminhos positivos para a prática do futsal feminino, que aos poucos ganha maior expressão e conquistas na realidade brasileira. Neste ano, a Equipe de Futsal Feminino da UFMG conquistou o 2º lugar dos Jogos Brasileiros Universitários (JUBs), organizados em Goiânia, Goiás, entre os dias 18 e 29 de outubro, um resultado que é fruto da iniciativa e do trabalho duro de todas as atletas.

A Equipe de Futsal da UFMG existe desde 2005, formada por alunos do curso de educação física da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO), e atualmente conta com atletas de vários cursos de Universidade. Atualmente os treinamentos ocorrem na quadra da EEFFTO e são bancados pelas próprias meninas, que se organizam para comprar equipamentos, conseguir patrocínios e participar de competições, sempre buscando bons resultados. São de quatro a cinco competições por ano, sendo a principal delas o próprio JUBs, que reúne alunos de universidades públicas e particulares de todo o Brasil.

Time de futsal feminino da UFMG no JUBs
Foto: Arquivo Pessoal

“As meninas são muito organizadas e decididas: se organizam e conseguem tudo por contra própria. Com a criação da Liga das Atléticas, houve uma aproximação entre os times e a UFMG e nós conseguimos apoio financeiro para participar do JUBs, mas para o Campeonato Mineiro, por exemplo, foi tudo por iniciativa das meninas. E o campeonato mineiro é classificatório: foi por termos vencido essa competição que conseguimos nossa vaga no nacional”, explicou a treinadora Fabíola Araújo, no comando do time há três meses.

Fabíola encara com bons olhos a boa colocação do time no nacional. Menos de dois meses antes da competição, o time passou por uma reestruturação técnica e teve a entrada de algumas atletas, o que resultou em um tempo mais curto de preparação.

Fabíola é graduada em educação física e mestre pela UFMG
Foto: Arquivo Pessoal

“Acredito que tivemos um ótimo desempenho, principalmente ao levarmos em conta as condições que a equipe se encontrava no momento da competição. Apesar de todos os imprevistos, as atletas se dedicaram muito. Nenhuma outra universidade de Minas Gerais obteve colocação melhor ou semelhante à nossa nos Jogos Brasileiros Universitários. Portanto, fiquei muito satisfeita com o rendimento da equipe”, disse.

Deborah Guimarães, goleira do time, ficou surpresa com o desempenho da equipe e também com a estrutura oferecida pelos Jogos Brasileiros Universitários, que contou com hospedagem, refeições e boas quadras para que as competições fossem feitas.

“Nós fomos muito bem em todos os jogos e chegamos na final, que foi um jogo muito equilibrado. Nós perdemos por causa de detalhes, mesmo.  E tivemos a oportunidade de conhecer pessoas de vários times diferentes de todo o Brasil. Além disso, o JUBs possui toda uma estrutura que deixa os atletas livres de se preocuparem com qualquer outra coisa além de competir, então foi uma experiência muito boa para o time”, afirmou.

Deborah é aluna do bacharelado em Educação Física da EEFFTO
Foto: Assessoria EEFFTO/Júlia Calasans

Deborah pratica futebol desde criança e está no futsal há cinco anos, tendo entrado no time por meio da indicação de colegas que já conheciam a equipe. Em sua vida no esporte, diz não ter vivenciado o machismo de maneira muito forte, mas que já passou por situações que a incomodaram.

“Quando eu era mais nova, meus treinadores colocavam meu time de meninas para enfrentar times de meninos e a gente via que eles não estavam levando muito a sério. Faziam corpo mole, jogavam de má vontade. Isso me deixava muito brava, não ser valorizada como uma adversária. Mas na universidade a gente quase não vê isso, felizmente”, disse.

Isadora Luíza, que também é membro do time e participou do JUBS, disse ter gostado do desempenho do time no campeonato, apesar das adversidades, mas acredita que é necessário uma maior visibilidade para futsal feminino dentro e fora da UFMG para que a modalidade cresça e ganhe mais adeptas.

“ O que eu acho que precisamos é de maior visibilidade para o time crescer. Muita gente nem sabe que a equipe existe! É importante que a Universidade divulgue nossas atividades, até para termos mais apoio, porque é comum ficarmos desamparadas e termos que correr atrás de tudo por conta própria”, confessou ela.

Isadora é membro do time desde agosto de 2017
Foto: Arquivo Pessoal

Isadora, que além de jogadora do time da UFMG, também joga pelo time de futsal na EEFFTO desde agosto de 2016, considerou boas as atividades realizadas pelo time em 2017 e espera desempenhos ainda melhores no ano que vem.

“No geral, foi bom. Crescemos, treinamos bastante, participamos de campeonatos e fizemos bons jogos. Agora é aguardar o recomeço dos nossos treinos em 2018 para que a gente consiga se sair ainda melhor em todas as competições que vamos disputar ano que vem. Será um ano movimentado, já devemos ter disputas logo no começo do período”, disse ela.

 

Futsal Feminino na EEFFTO

Enquanto o time de futsal feminino da UFMG escala jogadoras de todos os cursos da Universidade, a EEFFTO possui também seu próprio time. Ele é formado por meninas dos três cursos da Escola, algumas que, como Deborah e Isadora, fazem simultaneamente parte das duas equipes. 

As meninas do time EEFFTO foram campeãs da Taça da Amizade UFMG de Futsal Feminino, disputada entre Atléticas da UFMG, PUC e Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e CEFET. A final, disputada contra a Associação Atlética da Escola de Engenharia, aconteceu no dia 3 de dezembro, na quadra da EEFFTO, e marcou o final das atividades do ano das meninas.

“Eu gostei muito do campeonato, porque ele teve um nível técnico muito bom. Tivemos ótimas partidas na competição e para nós foi legal ter ganhado. Além da experiência, é uma forma de interação entre as atléticas de Belo Horizonte”, disse Isadora, que participou da competição.

Time de Futsal feminino da EEFFTO
Foto: Arquivo Pessoal

Essa foi a segunda edição da Taça, disputada pela primeira vez em 2015, na qual foi fruto de uma realização das próprias atléticas da UFMG. Desta vez, a organização ficou a cargo de um dos fundadores da Atlética da EEFFTO e ex-treinador do time, Gustavo Apolinário, e Brisa Assis, também uma das fundadoras da Atlética e atualmente aluna do Mestrado em Estudos do Lazer.  O objetivo do campeonato foi prover mais um evento de integração para as atléticas da Universidade, que além de suas competições internas, disputam entre si apenas um campeonato: o InterUFMG.

"Foi uma organização tranquila. O campeonato foi rápido, dois meses, e não tivemos nenhum problema na execução. Acredito que essas competições paralelas são muito importantes para fomentar o esporte universitário, principalmente o feminino, que possui menos competições. A iniciativa de fazermos um campeonato exclusivamente feminino é uma forma de promovermos uma atividade fora dessa agenda oficial e pretendemos continuar com ela. Já temos planos para fazer a terceira edição ano que vem", disse Brisa.

Brisa Assis e Gustavo Apolinário, organizadores da segunda edição da Taça da Amizade UFMG de Futsal Feminino