EEFFTO recebe Seminário de Ciência e Tecnologia de Esportes de Combate com foco no ensino e em métodos pedagógicos | EEFFTO - UFMG  


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EEFFTO recebe Seminário de Ciência e Tecnologia de Esportes de Combate com foco no ensino e em métodos pedagógicos

07/03/2018 | 11:34

Por Júlia Calasans

A trajetória de um atleta olímpico até o sucesso não é fácil e se encontra cheia de percalços. O esporte exige dedicação, treinos, estrutura, apoio e, principalmente, a presença de um bom treinador para ajudar o atleta a se manter focado em seus objetivos. E foi para discutir a atuação desse profissional, o professor, o treinador, e seus métodos de ensino que a Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) recebeu, no dia três de março, o Seminário Ciência e Tecnologia de Esportes de Combate: o Ensino em Foco.

O evento foi uma idealização do professor da EEFFTO Maicon Rodrigues Albuquerque em parceria com o Laboratório de Estudos e Pesquisa em Esportes de Combate da EEFFTO (LEPEC). O Seminário aconteceu entre 8h e 18h e dividiu-se entre palestras teóricas, conduzidas pelo próprio Maicon e pela convidada Larissa Galatti. A programação contou ainda com oficinas práticas, ministradas por Cristiano Arruda, André Fernandes e Paulo Henrique Caldeira. O evento também foi a segunda parte de uma parceria entre a Federação Mineira de Judô (FMJ) e a EEFFTO para a capacitação de professores de judô em Minas Gerais. 

Nédio Henrique Mendes da Silva Pereira, presidente da FMJ, esteve presente na abertura, assim como Luciano Corrêa, medalhista olímpico de Judô
Foto: Assessoria EEFFTO/Júlia Calasans

As atividades foram iniciadas pela professora e doutora da Unicamp Larissa Galatti, uma das maiores especialistas na área da Pedagogia do Esporte no Brasil. Sua palestra discutiu métodos pedagógicos e a iniciação e  permanência do jovem nos esportes de combate. Segundo ela, há uma preocupação muito grande na iniciação dos atletas, mas também uma taxa considerável de abandonos, sobre os quais ela atribui a culpa a métodos pedagógicos simples e pouco eficientes.

A grande pressão dos treinadores sobre os atletas desde muito novos, forçando sobre eles uma especialização precoce, aumenta o risco de lesões e assusta os jovens. As expectativas pesam sobre os atletas, que passam a enxergar os esportes de luta como uma grande obrigação com a qual não querem se comprometer, o que leva ao afastamento. Para amenizar essa realidade, Larissa defende que a especialização dos atletas seja adiada e que a perspectiva do jogo seja mais presente nos treinamentos. A simplificação das modalidades em “jogos de luta” tem melhores respostas cognitivas nos jovens, aumentando as chances da sua permanência no esporte.

“Eu comecei como praticante de basquete e, graças a professores ruins, quase desisti da modalidade. Foi na faculdade que eu conheci um bom professor, que se inspirava na Pedagogia do Esporte para ensinar, e me interessei por essa área. Apesar de no Brasil ser necessário uma graduação para trabalhar com esporte, mesmo nas Universidades há pouca reflexão sobre a prática. Seria bom que houvesse mais experiências práticas na graduação, e também mais parcerias com Federações Esportivas. Elas poderiam oferecer cursos, especializações, e ajudar os treinadores a desenvolver as competências necessárias”, disse.

O interesse de Larissa pela Pedagogia do Esporte veio durante suas próprias experiências boas e ruins com professores enquanto jogadora de basquete
Foto: Assessoria EEFFTO/Júlia Calasans

A segunda palestra do dia foi ministrada pelo professor Maicon Albuquerque, do Departamento de Esportes da EEFFTO, que falou sobre o ensino de lutas no contexto escolar e na iniciação científica. A princípio, ele se dedicou a falar sobre as especificidades dos esportes de combate. As modalidades esportivas de luta, regidas por regras e regulamentos, têm todas em comum o contato proposital, a fusão entre o ataque e defesa, a imprevisibilidade e a fusão de oponente e alvo em uma só pessoa. Elas podem ser divididas segundo critérios como distância entre os oponentes ou o tipo de contato.

Apesar da presença das lutas no currículo do ensino, a prática nas escolas é rara e enfrenta dificuldades. Segundo Maicon, há pouca produção científica relacionada às lutas na educação física escolar, o que é uma perda, pois a escola é um importante intermediário entre o jovem e o esporte. Ela desperta nele o interesse de procurar mais sobre a modalidade por conta própria. Além disso, os professores relatam dificuldades para implementar atividades práticas de esportes de combate nas escolas: infraestrutura inadequada, associação com questões de violência e falta de afinidade com os conteúdos.

“Eu mesmo tive dificuldade ao começar meu papel como professor de Lutas aqui na EEFFTO, pois eu só tinha afinidade com o taekwondo. Para superar isso e me tornar um professor mais completo, eu tive que pesquisar, buscar conhecimento com outros professores, em bons materiais teóricos que a nossa faculdade felizmente nos disponibiliza. Para os professores da rede pública, esse processo de conseguir repertório em outras modalidades talvez seja mais difícil, mas não é impossível. E para ajudarmos nisso, fazemos divulgações, eventos como esse, e discutimos muito no mestrado e no doutorado a importância da formação de professores”, explicou.

Maicon é doutor em Medicina Molecular pela UFMG
Foto: Assessoria EEFFTO/Júlia Calasans

Em relação à iniciação no esporte, ele também defendeu a perspectiva do jogo no ensino das modalidades de combate. É importante realizar um trabalho teórico e de contextualização com os atletas em conjunto a métodos pedagógicos que sejam diversificados para diferentes contextos e situações. O ensino dos golpes focados apenas na qualidade da execução, além de serem impessoais, têm menos eficácia. O jogo permite expor o atleta a diferentes situações, o que melhora as tomadas de decisões com restrição de tempo e traz um componente divertido para a prática, facilitando a criação de laços emocionais.

“O jogo têm que ser o ponto de partida na aprendizagem, pois ele trabalha atividades em contextos mais próximos das situações reais de combate. Do jogar para aprender, do aprender jogando. E esses métodos pedagógicos se tornam ainda mais eficazes caso haja uma boa relação entre o professor e o aluno na aprendizagem. Essa proximidade não deve ser subestimada”, explicou ele.

Ensinar movimentos através do jogo ajuda a fixá-los na memória e aumenta a capacidade adaptativa dos atletas
Foto: Assessoria EEFFTO/Júlia Calasans

Campeão Mundial do Judô, Luciano Corrêa esteve presente para assistir às palestras e disse concordar com a importância do método pedagógico apresentada pelos palestrantes. Ele também acredita que parcerias entre Federações, Universidades e sociedades seriam soluções viáveis para o problema da falta de bons métodos pedagógicos e reconheceu a influência que bons professores tiveram nos seus resultados como atleta.

“Todos os profissionais pelos quais passei estavam bem capacitados e isso com certeza teve reflexos positivos nos meus bons desempenhos, embora eu ache que, hoje, com as novas tecnologias, há aspectos que poderiam ser melhorados. Por exemplo, acredito que faltou uma especialização técnica para mim quando eu estava me iniciando no lado competitivo do esporte. E é por isso que iniciativas como essas da UFMG são importantes. Com pesquisas, trocas de conhecimento, discussões, podemos fortalecer ainda mais os esportes de luta no país”, observou ele.

Luciano conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011, e Toronto, em 2015
Foto: Assessoria EEFFTO/Júlia Calasans

Na parte da tarde ocorreram as oficinas práticas, divididas pelos critérios de distância apresentados na palestra. Cristiano Arruda, professor de taekwondo, trabalhou exercícios de média distância. André Fernandes, professor do judô, baseou sua oficina em exercícios de curta distância e Paulo Henrique Mesquita, que possui experiência no kung-fu, ministrou atividades de longa distância com implementos. As atividades se utilizaram da experiência do jogo para criar um ambiente descontraído para os participantes.

O professor de judô Antônio Carlos de Oliveira, que assistiu às palestras, disse ter ficado satisfeito com a iniciativa da EEFFTO, pois ela valoriza o papel e o esforço do professor na vida do atleta. Ele já conhecia a perspectiva do plano pedagógico, mas apontou que, na correria do trabalho, é fácil se esquecer dela ou deixá-la em segundo plano; a palestra serviu não apenas para lembrá-lo, mas também para trazer novas reflexões.

“Por mim, esses eventos deviam ser muito mais frequentes. Quando formamos na faculdade, é mais comum que encontremos opções de especialização mais teórica. Faltam cursos, mesmo quando os procuramos por conta própria, falta essa preocupação com o ensino, com o professor. Ser professor é um trabalho 24h. Você precisa ser um exemplo para o seu aluno, pois é em você que ele se espelha, é em você que ele se inspira. Muitos de nós professores ultrapassamos a barreira de apenas educadores para nos tornamos amigos dos nossos alunos. É gratificante ensinar, vê-los aprender. E quanto melhores ficarmos em ensinar, melhor será para as duas partes”, argumentou ele.

Antônio pratica judô há aproximadamente 40 anos, e possui 16 anos de experiência como professor
Foto: Assessoria EEFFTO/Júlia Calasans