PET-TO realiza I Circuito de Colóquios em Terapia Ocupacional Campo Social | EEFFTO - UFMG  


Alto Contraste

PT ENG ESP





PET-TO realiza I Circuito de Colóquios em Terapia Ocupacional Campo Social

04/07/2018 | 08:00

Por Isabela Trindade

O Programa de Educação Tutorial da Terapia Ocupacional (PET-TO) da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) promoveu no dia 23 de junho, sábado, o I Circuito de Colóquios em Terapia Ocupacional Campo Social. O evento foi realizado no auditório Maria Lúcia Paixão, das 09h às 16h30, e contou com a participação de diversas terapeutas ocupacionais atuantes no campo social.

Durante a recepção aos participantes, um vídeo foi apresentado e, em seguida, a professora Rosangela Gomes da Mota de Souza, do Departamento de Terapia Ocupacional da UFMG, iniciou as apresentações da mesa. Rosangela mostrou o panorama da TO Social no Brasil, de seus primórdios até o atual momento. De acordo com ela, essa área se consolidou como campo de intervenção para demandas não biomédicas no final da década de 1990 e início dos anos 2000, mas ainda tem seus desafios.

"A Terapia Ocupacional sempre participou ativamente em movimentos sociais de luta pelos direitos, por mudanças políticas e assistenciais, como na reforma sanitária e psiquiátrica e na proteção de crianças e adolescentes em risco social. Entretanto, por mais que tenha se firmado como autora de intervenções há cerca de 20 anos, ainda é questionada, assim como a maior parte dos campos de conhecimento", disse.

A docente explicou que o sujeito chega para a terapia ocupacional como um indivíduo completo, com todas as suas questões pessoais e sociais inclusas.
Foto: Isabela Trindade/Assessoria EEFFTO

Nathália Gontijo, Terapeuta Ocupacional formada pela UFMG e atuante na Residência Multiprofissional em Saúde da Família com ênfase na população do campo no Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF), assumiu o comando da mesa e falou sobre a negligência do Estado para com as minorias sociais.

"Uma das dificuldades do trabalho da TO neste âmbito é o fato de que os grupos que realmente precisam de atendimento e assistência não conseguem chegar aos postos e centros de saúde. Dessa forma, seria necessário encontrar uma maneira de alcançá-los em seus próprios espaços, o que dificilmente ocorre", explicou.

A terapeuta comentou que os movimentos sociais ajudam a romper com a condição de pobreza, dando voz às pessoas.
Foto: Isabela Trindade/Assessoria EEFFTO

Posteriormente à fala de Nathália, Priscila Boy e Priscila Lemos apresentaram ao público o trabalho da Terapia Ocupacional no Sistema Único de Assistência Social (Suas), um sistema público que organiza os serviços de assistência social no Brasil. Com um modelo de gestão participativa, articula os esforços e os recursos dos três níveis de governo, isto é, municípios, estados e a União, para a execução e o financiamento da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), envolvendo diretamente estruturas e marcos regulatórios nacionais, estaduais, municipais e do Distrito Federal.

Priscila Boy é formada pela Universidade Fumec e trabalha na área de proteção social especial, em uma das Unidades de Atendimento do Suas, o Centro-Dia de Referência para Pessoa com Deficiência e suas Famílias. Ela relatou como é o atendimento do Centro. 

"O Centro funciona bastante por meio de denúncias de pessoas com deficiência com quadro atual de dependência, agravada por situações de risco e violação de direitos. Além de atenção integral a esses indivíduos, a unidade pública também oferece apoio às famílias e aos cuidadores, como forma de diminuir o estresse provocado pelos cuidados prolongados", falou.

De acordo com Priscila Boy, o atendimento realizado no Centro-Dia é um serviço e, por isso, não pode acabar de um governo para outro.
Foto: Isabela Trindade/Assessoria EEFFTO

Já Priscila Lemos se formou pela UFMG há oito anos e atua em residências inclusivas, que recebem deficientes sem condições de se sustentar e estão afastados de suas famílias, e também no Lar dos Meninos Dom Orione.

"O Lar é um abrigo institucional e está inserido na Regional Pampulha, onde acolhe crianças e adolescentes em medidas protetivas por determinação judicial, em decorrência de violação de direitos ou pela impossibilidade de cuidado e proteção por parte das famílias", contou.

A terapeuta ocupacional falou sobre o cuidado tomado com as crianças do Lar Dom Orione, que tiveram seus direitos violados.
Foto: Isabela Trindade/Assessoria EEFFTO

Marcos Paulo Justino da Silva, aluno do 5º período de TO na EEFFTO, participa do PET desde janeiro deste ano e ajudou na organização do evento, juntamente com a aluna Taís Dias Mota. Ele diz ter outra perspectiva do curso com a experiência adquirida no Programa de Educação Tutorial e que, com a questão política atual e com tanta indecisão no ar, acharam muito interessante trazer o tema para debate.

“O campo social é muito importante no nosso curso, pois visa à autonomia e independência do sujeito. Achamos interessante trazer esse tema para debate porque, além de ser uma oportunidade de divulgar a terapia ocupacional, possibilita o contato com as questões de pessoas que estão à margem da sociedade e que muitas  vezes não são vistas, seja pelo governo ou pela sociedade no geral. Acho que é bom para resgatar essa questão social, de que muitas vezes indivíduos ficam isolados no nosso mundo”, afirmou.

O aluno contou que, com as atividades do Programa, é possível aprender muito da prática, além de conseguir contatos profissionais em diversas áreas.
Foto: Isabela Trindade/Assessoria EEFFTO

Na segunda etapa do evento, Emanuelle Lopes Miranda, Raquel Aline Ramos Motta e Nayara Soares discutiram sobre a atuação da TO em medidas socioeducativas para o público masculino. Emanuelle Miranda deu início à mesa falando sobre sua atuação no Centro de Internação Provisória Dom Bosco, onde as ações são baseadas no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA).

"Nessa medida, busca-se o estabelecimento de vínculos e a promoção de encaminhamentos à rede externa de atendimento, sendo todo o trabalho pensado em rede, com o objetivo de que outras possibilidades sejam vislumbradas pelos jovens", disse.

Nayara Soares (à esquerda), Raquel Motta (centro) e Emanuelle Miranda (à direita)
Foto: Isabela Trindade/Assessoria EEFFTO

Em seguida, Raquel Motta falou sobre a internação, medida socioeducativa mais rigorosa de todas. A terapeuta ocupacional trabalha no Centro Socioeducativo Santa Clara, onde realiza o acolhimento, levantamento de histórico ocupacional, planejamento, acompanhamento e execução de oficinas, além da organização da rotina institucional e do acompanhamento de cursos internos. Raquel diz que acredita que a TO promove uma formação que faz olhar para o indivíduo que de alguma forma não está inserido, seja qual for sua questão.

“Nós temos uma formação que é social, política e de vários outros aspectos e contextos, que permite que tenhamos um olhar diferenciado para quem está à margem. Acho que a grande questão da TO neste sistema é tentar incluir e garantir os direitos, desde os fundamentais até outros como de lazer, esporte, cultura”, ponderou.

Raquel disse que, em artigos sobre o assunto, muitos autores não falam sobre os impasses do trabalho e o que foi possível construir pra chegar a um bom resultado.
Foto: Isabela Trindade/Assessoria EEFFTO

Ao final da mesa, Nayara Soares trouxe a medida da semiliberdade, com a qual atua na Unidade de Semiliberdade São Luís. De acordo com ela, atualmente existem 11 unidades em Minas Gerais, sendo sete em Belo Horizonte e apenas uma feminina.

"No cumprimento da medida, é colocado em questão a relação do jovem infrator com a liberdade e com o outro, enquanto os adolescentes são encaminhados para a formação profissional e participam de oficinas e atividades de cultura, esporte e lazer", falou.

A aluna de graduação Luciana Arães Frisão esteve presente no evento e sempre teve interesse no campo social, que está ligado intimamente a sua história de vida, já que veio de uma área de periferia. O Circuito a agradou e ajudou bastante, pois está escrevendo seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) dentro da área, no contexto escolar e de vulnerabilidade social que crianças e adolescentes vivem.

“A rede, enquanto educação e sistema de saúde, deixa de cumprir muitos atendimentos, como pudemos perceber aqui hoje. Nós questionamos de quem é a culpa, mas na verdade todos são culpados. A sociedade enquanto comunidade precisa auxiliar nesse processo e a rede tem que abraçar a causa e tentar articular possibilidades para essas crianças e jovens, para que consigam ter oportunidades de verdade e consigam exercer papéis nessa sociedade”, concluiu.

De acordo com Luciana, as pessoas que estão à margem são escravizadas e é função da TO ampliar os papéis na sociedade e garantir os direitos destes sujeito.
Foto: Isabela Trindade/Assessoria EEFFTO

Para finalizar o evento, Tatiana Maria Marques Tironi e Regina Perocini discutiram o papel da Terapia Ocupacional no socioeducativo feminino. Tatiana trabalha no Centro Socioeducativo São Jerônimo, o único centro feminino de internação do Estado. Já Regina atua no Projeto Superação, no qual os adolescentes beneficiados têm a oportunidade de participar de aulas de iniciação esportiva, dança, capoeira e competições por equipes, dentro e fora dos centros, que colaboram com a formação social dos internos.