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ASUSSAM realiza encontro para discutir saúde mental

22/10/2018 | 12:57

Por Leonardo Soares

A Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) recebeu, no último sábado (20), o II Encontro dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental e Familiares. Organizado pela Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais (ASUSSAM), que integra as comissões estadual e municipal de reforma psiquiátrica e da qual os familiares dos usuários também fazem parte, o evento teve apoio do Departamento de Terapia Ocupacional da EEFFTO e do Programa de Extensão em Atenção à Saúde Mental (PASME). Na ocasião, propostas foram apresentadas e discutidas pelos presentes.

Usuária do serviço público de saúde mental e uma das organizadoras do evento, Laura Fusaro, mencionou, diversas vezes, a importância da mobilização dos usuários em promover mais encontros do tipo, não apenas discutindo o que precisa ser melhorado, como também defendendo o direito das pessoas com sofrimento mental. Laura, que faz parte da organização há três anos e é integrante do Conselho Municipal de Saúde da Prefeitura de Belo Horizonte, ressaltou um dos papéis mais importantes da Associação: o de propor diretrizes para o funcionamento eficaz dos serviços ligados à saúde mental.

“Este evento demonstra que a ASUSSAM está atenta ao momento político atual. Não podemos mais esperar por conjunturas políticas favoráveis para que nossa rede possa funcionar plenamente. Nossos usuários possuem muita potência e conhecem seus direitos, o que ainda falta é organização para que possamos ampliar a participação deles, construir lugares de fala, nos atentar a todos os detalhes relacionados ao encontro e, assim, chegar a decisões mais acertadas”, afirmou.

A questão da luta antimanicomial também foi lembrada por Laura, que salientou o apoio à causa, não só da UFMG, mas do Sistema Único de Saúde (SUS), órgão público defensor do tratamento em liberdade, da decisão compartilhada e da reinserção social.

A cultura manicomial ainda é muito grande.
Foto: Leonardo Soares/Assessoria EEFFTO

“Embora o tema saúde mental esteja sendo abordado em diferentes espaços, incluindo a Universidade, há mais enfoque sobre os casos de baixa complexidade, como ansiedade e crises de pânico, enquanto as questões de alta complexidade e luta antimanicomial permanecem em segundo plano”, disse.

Para Regina Céli Fonseca Ribeiro, professora do Departamento de Terapia Ocupacional da UFMG, a Universidade tem um dever importante de promover a reflexão e a construção de políticas públicas de saúde mental, bem como ampliar sua parceria junto à comunidade externa e aos movimentos coletivos.

Dessa forma, ao receber tal evento em um ambiente de formação de futuros profissionais de saúde, mantido pelos impostos de todos os cidadãos brasileiros, a Escola proporciona aos alunos um contato real com as necessidades da área, enriquecendo a formação ao mesmo tempo em que fomenta o lado ético e solidário de cada um.

Regina Céli é doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, com ênfase em Saúde Mental.
Foto: Leonardo Soares/Assessoria EEFFTO

“Podemos considerar eventos deste tipo como um exercício prático do que os estudantes aprendem em sala de aula. Assim, quando eles estão aqui, seja trabalhando ou participando, eles têm a chance de vivenciar na pele a luta dessas pessoas por seus direitos, diversidade e respeito, valores presentes em nosso Código de Ética e defendidos pela Terapia Ocupacional. O mais importante neste momento é que o Governo volte a destinar recursos reajustados para a reforma psiquiátrica, algo que não acontece desde 2011. O que vem acontecendo, na verdade, é o investimento e destinação de recursos para favorecer comunidades terapêuticas, que, em sua maioria, não têm profissionais de saúde e, por isso, acabam funcionando como manicômios”, afirmou.

Leida Maria, familiar de um usuário da ASUSSAM, julga importante discutir o serviço substitutivo de saúde mental, que, para ela, assim como o setor de saúde como um todo, vem sofrendo um desmonte dos atuais gestores.

 Estamos muito individualistas. Prestar atenção no outro é fundamental.
Foto: Leonardo Soares/Assessoria EEFFTO

“Aqui a gente tem este espaço para virmos falar, nos organizar e ajudar a defender o serviço substitutivo e o SUS. A ASUSSAM tem um papel político muito importante, elencando as demandas dos assistidos e dos familiares, recebendo denúncias relacionadas a maus tratos e falta de suprimentos, além de ouvir mais o outro para que, assim, o funcionamento do serviço seja mais eficaz. Estar aqui, seja como estudante ou familiar, e ouvir a história do outro faz com que conheçamos sua realidade e possamos respeitá-lo, abandonando preconceitos e tendo a certeza de que eles são capazes”, concluiu.