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Idoso: ser ativo

11/02/2020 | 16:55

Por Mariana Silva

No Brasil, cerca de 13% da população é composta por idosos. Dados de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que é provável que essa taxa dobre, dentro das próximas décadas. Com o aumento da expectativa de vida dos idosos, é importante que autoridades deem mais atenção para políticas públicas que possam auxiliar esse grupo, além da contribuição de toda sociedade.

Os indivíduos da chamada “melhor idade” são intitulados, por grande parte da população, como pessoas inativas, que pouco têm a contribuir para a sociedade. Uma matéria divulgada em 2016, pela Revista EXAME mostra o contrário. A reportagem mostra que muitos idosos voltaram a estudar, estão praticando atividades de lazer e até retornaram ao mercado de trabalho. 

Acreditar na inatividade dos idosos em práticas do dia a dia, estereotipar e determinar quais atividades eles conseguem realizar, certamente tornou-se ultrapassado. Felizmente, existem diversas ações que, além de contribuírem para qualidade de vida do idoso e sua atuação em diversas atividades relacionadas ao esporte e à socialização, auxiliam no rompimento dessa concepção.

Na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG, o Programa Envelhecimento Ativo é um exemplo. Além de estimular a prática esportiva, o Programa procura desenvolver práticas relacionadas ao lazer e aos aspectos psicossociais dos participantes. Iniciado no ano de 1992 como Projeto Educação Física para a 3ª Idade no Bairro Providência, foi fixado como um Projeto de Extensão da UFMG em 1993.

No ano de 2018, o Projeto chegou a 41 turmas com 800 pessoas atendidas, distribuídas em 9 modalidades. Devido a essa crescente demanda, no mesmo ano foi criado o Programa Envelhecimento Ativo, com o objetivo de desenvolver melhor os projetos e suas demandas. Ao longo dos anos o Programa vem potencializando diversas ações quanto aos hábitos dos idosos na sociedade.

O "perfil" do idoso como pessoa incapaz no senso comum, está cada vez mais distante da realidade vivenciada nos dias atuais. Aos 65 anos de idade, Eliete Alzira da Luz Costa aluna do Programa há quase dois anos, se considera uma pessoa muita ativa que está sempre em busca de coisas novas, como ler e estudar. Eliete relatou ainda, que após a entrada no Envelhecimento Ativo, começou a se sentir mais disposta para as atividades do cotidiano. 

"Eu não entendo, poderia ter outra palavra, porque idoso parece que é um trem velho parado, talvez pessoa madura, deveria ter outro nome".
Foto: Mariana Silva/Assessoria EEFFTO

“Sou portadora de esclerose múltipla e meu médico fala que meu caso é de estudo, porque eu tive um único surto, felizmente, e não tive sequelas aparentes e limitações, principalmente, a não ser uma fadiga que tem dia que eu sinto, mas fora isso, mais nada. Então, eu sinto meu corpo cada vez melhor, minha disposição física aumentou e isso parece que ativa o cérebro”, disse.

Dentre as nove atividades oferecidas pelo Programa Envelhecimento Ativo, o Grupo de Dança Sarandoso é um projeto que promove a prática de danças de pessoas idosas. O Grupo realiza apresentações dentro e fora da EEFFTO.

Marly Borges Santos de 81 anos é mais uma prova de que idoso pode ser ativo. Integrante do Grupo de Dança Sarandoso há aproximadamente 12 anos e da prática de Ginástica na EEFFTO, ela já participou de diversas atividades, dentre elas o coral e o teatro, além disso, considera muito importante a Escola ter um espaço aberto para os idosos. Ciente da, ainda existente, concepção da sociedade sob o público idoso como "inativo" e "ocioso", Marly considera essa visão muito negativa.

"Apaixonada por dança, Marly acredita que o Grupo mudou e tem transformado a vida de muitas pessoas".
Foto: Mariana SIlva/Assessoria EEFFTO

“É horrível e horripilante. Eu acho que, se eu estou com essa idade é porque eu ainda não morri. Então quanto mais anos eu fizer, melhor. As vezes algumas pessoas ficam me olhando quando estou dançando, porque eu gosto de dançar outras danças também, mas nunca me falaram nada”, relatou.

Jefferson Eustáquio Fonseca, surpervisor do Projeto de Dança e Qualidade de Vida que integra o Programa Envelhecimento Ativo, afirma que com o passar dos anos, diante da realização de diversas pesquisas, o Programa evoluiu sua visão para com os idosos. Ele acrescenta que há 28 anos a concepção do idoso como pessoa carente e dependente era comum.

“O Programa Envelhecimento Ativo começou como uma atividade, que era desenvolvida no Bairro Providência, há 28 anos e a partir dessa demanda, o grupo foi trazido aqui para a universidade com a necessidade de alguém, de um professor para conduzir essa atividade. A  EEFFTO e os professores abraçaram essa demanda e há 27 anos vem desenvolvendo esse Programa”, falou.

“Atualmente a pessoa idosa é mais ativa e necessita cada vez menos de assistência e de mais serviços".
Foto: Mariana Silva/Assessoria EEFFTO

Ainda segundo Jefferson, o Programa vem se reinventando e inovando. Além de trabalhar com exercícios físicos, a questão cognitiva e a parte social são áreas muito desenvolvidas no Envelhecimento Ativo, que atua na prevenção atendendo pessoas com idade a partir dos 45 anos. Ele ainda acrescenta que os pilares básicos do Programa são o social, o cognitivo e o físico.

“As pesquisas hoje apontam que o idoso é visto como alguém que pode e deve ser atuante socialmente, participando e sendo engajado nas questões sociais, nos grupos, fazer parte dos mesmos e ter essa identidade de comunidade”, disse.

Não há mais espaço para concepções que considerem os idosos como um público ultrapassado para dançar, exercitar, trabalhar, estudar, aprender e realizar diversas outras atividades que tragam bem estar e felicidade.