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Educação Física na escola: obrigação ou oportunidade?

01/10/2016

                     Foto: N/A

LUCIANO PRADO

 

Nesses últimos dias, estivemos envolvidos numa polêmica discussão a partir de uma suposta proposta do governo federal para se retirar a obrigatoriedade da Educação Física no ensino médio. Digo suposta proposta porque, no fim das contas, não se sabe qual é, realmente, a sugestão. Entretanto, o tema foi lançado ao debate, e isso é importante.

A Educação Física na escola tem infindáveis propósitos e possibilidades. Não há espaço aqui para debatê-las com a devida profundidade, mas gostaria de mencionar alguns aspectos. Ela é um meio fundamental para entendermos nosso pano de fundo antropológico, nossa cultura, nossas origens e história. É brincando e jogando que aprendemos a entender nossos companheiros, é onde podemos aprender que nossos oponentes não são nossos inimigos (ou deveríamos pelo menos)... É lá que podemos aprender a ajudar e aprender a nos deixar ajudar. Mas é também lá que experimentamos as possibilidades motoras de nossos corpos, aprendemos a nos movimentar, a correr, a respirar, a rolar, a saltar, a arremessar, quem sabe até a nadar.

E esse tipo de coisa, quando se aprende, é para a vida toda. Podemos até ficar meio “enferrujados”, mas é uma memória inapagável, basta dar uma sacudida que ela volta em qualquer tempo de nossa história. E isso é muito importante. Porque precisamos do movimento a vida toda e, mesmo que tenhamos nos esquecido disso, que não tenhamos conseguido manter uma vida ativa, por quaisquer razões que sejam, uma hora precisaremos voltar.

A evidência científica é clara, e não me canso de repetir: somos feitos para o movimento e, se não nos mexermos, adoecemos. A atividade física melhora nosso sistema imune, protege nosso sistema cardiovascular, nosso metabolismo de açúcares e nos deixa mais espertos.

Mas isso é tema para outra coluna. Quero chamar atenção para um aspecto que considero crucial: jogos não são necessariamente esportes, mas esportes são jogos, mesmo os individuais. Joga-se, de certa maneira, ao tentarmos correr, saltar, pedalar e remar mais alto, mais longe ou mais rápido e por mais tempo. Assim, a educação física em seu contexto escolar, ao nos propiciar a oportunidade do jogo e da brincadeira, pode nos propiciar a oportunidade de sermos iniciados no esporte.

Não se trata da finalidade última da educação física escolar, obviamente, mas é uma de suas possibilidades. A educação física na escola não deve existir para que se formem atletas, ou se selecionem talentos. Mas ela também pode contribuir, e fortemente, nesse sentido.

Assim, coloca-se o debate: se a educação física no ensino médio será obrigatória ou não, na minha modesta opinião – e sei que ela não é unânime –, é fato secundário. A educação física, de qualidade, plural, frequente, intensa (no sentido poético da coisa) e diversificada, precisa é de ser uma oportunidade, uma vivência a ser oferecida e garantida a todos. Porque é rica e importante demais para ser, simplesmente, uma obrigação.

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