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"Maria" e "franga" é "brincadeira"?

04/08/2017

“Futebol tá chato”, “é só brincadeira”, “lá vem esse discurso politicamente correto” e “tudo é mimimi”. Essas expressões são constantemente publicadas em comentários nas redes sociais para confrontar a visibilidade LGBT+ no futebol. Em outras palavras, são pertencentes a quem acredita que chamar o adversário de “franga”, “maria” e “bicha” é uma atitude normal nas arquibancadas. Mas será mesmo que tudo não passa de mimimi?

Há quem se sinta tão ofendido com esses gritos que se afasta de estádios, para de frequentar bares que transmitem partidas de futebol e até perdem a paixão por um clube ou pelo esporte. Também existem aqueles que enfrentam o preconceito e, ainda, uma parcela – ínfima ou não – de heterossexuais que apoiam a causa LGBT+ que, consequentemente, não concordam com os cânticos considerados homofóbicos.

“Há uma grande identificação dos torcedores gays com os clubes. E essa grande motivação para estar nos estádios é a declarada paixão e o pertencimento clubístico. São torcedores que se apropriam dos espaços de torcida do futebol, mesmo sendo um lugar excludente, preconceituoso e homofóbico”, explicou o pesquisador da UFMG e mestre em Educação Física, José Aelson.

Para a psicóloga Bárbara Gonçalves, que integra o Grupo de Pesquisa em Memórias, Representações e Práticas Sociais, o Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas (GEFUT/UFMG) e o Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT da UFMG (NUH), a homofobia nos estádios é propagada por meio de gritos que visam ofender o adversário, como se um heterossexual fosse melhor que um homossexual.

“Em um local (estádio) que funciona como um reduto masculinizado, qualquer coisa que seja próxima da feminilidade, ou que torne menos masculino, é uma forma de diminuir o outro. As torcidas usam gritos homofóbicos como uma forma de diminuir outras torcidas. Isso não faz parte apenas do momento de extravasar o futebol. É um reflexo de como a gente constrói as lógicas na sociedade brasileira, naturalizando uma série de comportamentos que não deveriam ser naturalizados”, afirmou Bárbara.

Os clubes têm culpa?

Muitos torcedores homossexuais culpam os grandes clubes brasileiros, em sua maioria, de se omitirem ou se esquivarem do assunto, haja vista a quantidade quase nula de campanhas contra homofobia. Mas será que essas agremiações possuem responsabilidade para o comportamento agressivos de uma parcela de seus torcedores?

“Acho que os clubes, enquanto puderam, se eximiram em assumir essa pauta e gerar qualquer desconforto com seus torcedores mais conservadores, inclusive, penso eu, insuflando seus jogadores a silenciarem suas sexualidades ‘desviantes’”, comentou José Aelson.

A psicóloga compartilha de uma opinião semelhante. “Muitas vezes os clubes não vão investir em ações contra homofobia porque eles ainda acreditam no futebol como um reduto da masculinidade, e quem falar alguma coisa em defesa dos homossexuais está de ‘mimimi’. As pessoas sofrem violência e são impedidas de frequentar determinados espaços, e nada é feito a respeito disso. Não sei se a gente pode falar de todas as diretorias, mas é fato que quase ninguém faz campanha”, pontuou.

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